A Carta ao Povo de Deus da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foi publicada ontem, após a leitura do esboço na terça-feira. Abaixo, o texto na íntegra: Queridas irmãs e irmãos, ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVIa Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em profunda comunhão com todos vós. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e também os vossos receios. Já passaram dois anos desde que, a pedido do Papa Francisco, iniciamos um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para “caminhar juntos”, sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo. A sessão que nos reuniu em Roma desde 30 de setembro foi um passo importante neste processo. Em muitos aspectos, foi uma experiência sem precedentes. Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutamos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhamos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentamos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates. A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que, alguns de nós, provinham de países onde a guerra deflagra. Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos os que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz. A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecumênica de abertura, experimentamos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. “A cruz é, de facto, a única cátedra d’Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que ‘todos sejam um’ (Jo 17,21)”. Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiamos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: “Laudate Deum! “, recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos. Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: “Amor! “. Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia. É a “confiança” que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentamos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente. E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra “sínodo”. Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, “Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstratos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (…), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um” (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos. Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória. A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no
Ano: 2023
Um em cada três jovens franceses afirma ter visto pornografia antes dos 12 anos
A Fundação Apprentis d’Auteuil publicou no dia 12 de outubro um relatório preocupante sobre a juventude francesa. Segundo a pesquisa, quase um em cada três jovens afirma ter visto pornografia antes dos 12 anos. No total, 42% dos rapazes e 29% das moças afirmam consumir pornografia para aprender sobre sexualidade. Como resultado, 27% por cento dos jovens acredita que os desejos sexuais dos rapazes são incontroláveis e 25% está convencido de que as moças podem desfrutar de relações sexuais forçadas. Não só, os jovens sentem-se obrigados a satisfazer os desejos sexuais dos seus parceiros. Dos entrevistados, 44% concordaram com uma relação sexual para agradar outra pessoa. A pesquisa mostra um perfil diferente para rapazes e moças. Por exemplo, o número de moças que se sentiu obrigada a um ato sexual com o parceiro é maior que o número de rapazes, 46% contra 38%. E mais que o dobro do número de rapazes pensa que, num relacionamento, é preciso concordar em um ato sexual sempre que o outro quiser, uma estatística de 28% para 13%. A Fundação Apprentis d’Auteuil é uma organização francesa de apoio à juventude. O relatório, em francês, pode ser consultado aqui.
África teve o maior aumento de católicos e números caem na Europa
Em relatório anual divulgado em 22 de outubro pela agência de notícias Fides, do Vaticano, a África registra o maior número de católicos em 2021. Os números se referem a todos os continentes e quatro registraram um aumento ao menos modesto no número de católicos em relação a 2020. O único continente com declínio foi a Europa. O relatório foi divulgado por ocasião do Dia Mundial das Missões e cobre o período de um ano, de 31 de dezembro de 2020 a 31 de dezembro de 2021. A data foi estabelecida pelo Papa Pio XI em 1926 e é geralmente comemorada no terceiro domingo de outubro. Ao final de 2021, os católicos no mundo somavam 1.375.852.000, com um aumento global de 16,2 milhões em comparação com o ano anterior. Porém, mesmo com o crescimento de católicos, a percentagem mundial diminuiu ligeiramente em comparação com o ano anterior. De 17,7% em 2020 para 17,67% em 2021. A África lidera as estatísticas. O continente africano ganhou 40 milhões de habitantes no período estudado, 8,3 milhões são católicas. Número de sacerdotes O relatório também aponta o número de sacerdotes, que caiu 2.347, totalizando 408 mil em 2021. A Europa sofreu a maior queda, com perda de 3.632 padres. A África ganhou 1.500 sacerdotes. Tal declínio foi menos dramático do que em 2020, quando a agência Fides registrou uma diminuição de 4.117 em comparação com 2019, mas é preocupante. Há mais pessoas por sacerdote no mundo, cerca de 3.373 católicos por sacerdote. A quantidade diáconos permanentes mudou pouco, com um aumento de 541 em todo o mundo. Somente a África registrou um aumento no número de seminaristas maiores, 187. O continente também tem o maior número de seminaristas maiores em geral, com quase 34.000. A Ásia, a Europa e as Américas registraram perdas de três dígitos, enquanto os números da Oceania permaneceram praticamente inalterados. Em todo o mundo, o número de seminaristas maiores caiu quase 2.000, para cerca de 110.000. Quanto ao número total de seminaristas menores, as estatísticas mundiais indicam um aumento de 300, chegando a 95.714. Porém, a África liderou com um ganho de mais de 2.000, enquanto a Ásia sofreu a maior hemorragia com 1.216. Seminaristas maiores são os que estão no ensino superior e menores os que já entraram para o seminário para terminar os ensinos médio e fundamental. Religiosos, missionários e obras de caridade São quase 800 religiosos do sexo masculino a menos no mundo. Foram grandes perdas na Europa, nas Américas e na Oceania, com algum ganho na África. Os números das religiosas femininas é mais grave. Ainda que restem cerca de 609 mil mulheres religiosas no mundo (número que supera os sacerdotes), esse número caiu 10.588 no período estudado. A Europa, novamente, lidera as estatísticas com uma perda maciça de mais de 7.800. As Américas perderam mais de 5.000 religiosas, enquanto a África ganhou mais de 2.000. Nas Américas, há quase 4 mil missionários leigos e catequistas a menos. Há modestos ganhos na África e na Europa e, na Ásia, o ganho foi de quase 670. No mundo, a Igreja opera mais de 74 mil jardins de infância, quase 101 mil escolas primárias católicas e 50 mil escolas secundárias. São cerca de 2,5 milhões de alunos do ensino católico secundário e 4 milhões de estudantes que frequentam universidades católicas. Porém, não necessariamente todos os alunos professem a fé católica. A África tem o maior total de alunos infantis, escolas primárias católicas, alunos do ensino primário e escolas secundárias católicas. E detém o terceiro maior número de alunos do ensino secundário de todos os continentes. A Europa e a Ásia lideram as estatísticas. As Américas detêm o maior número de estudantes universitários em escolas católicas. Enquanto isso, a Ásia tem o maior número de estudantes católicos do ensino secundário, com 1,3 milhões. A Igreja administra, no mundo, 5.405 hospitais em todo o mundo, 15.276 lares para idosos e 9.703 orfanatos.
A Igreja está agora em uma “fase mais profunda” do Vaticano II
Afirmação foi do padre australiano Ormond Rush durante um discurso aos membros do Sínodo no início da sua última semana em Roma. Durante seu discurso no início desta última semana do Sínodo da Sinodalidade, ele instou os participantes a recorrerem aos argumentos do Vaticano II para os seus procedimentos. Ele também destacou que o evento “é um diálogo com Deus” e falou sobre “tradição” como entendida no Vaticano II a luz dos escritos de 1960 do então cardeal Joseph Ratzinger. O padre Rush, sacerdote da Diocese de Townsville, é conhecido pelos seus numerosos escritos que promovem o Concílio Vaticano II como um apelo à “renovação e reforma da Igreja Católica”. E defende uma maior implementação do seu novo estilo de envolvimento com a Igreja Católica, mundo e com os católicos. O sacerdote está estreitamente envolvido no Sínodo da Sinodalidade, servindo como parte da comissão teológica consultiva da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Ele é membro sem direito a voto do Sínodo, mas como um dos especialistas, tem a tarefa de compilar os vários relatórios de pequenos grupos no relatório oficial de síntese de toda a reunião. Citando direta e frequentemente os relatos do então padre Joseph Ratzinger sobre o Concílio Vaticano II, o padre australiano destacou como “podemos até falar do Concílio como um novo começo” em termos do afastamento de uma postura “antimodernista” sobre a qual Ratzinger escreveu. Anteriormente a sua viagem à Roma para o Sínodo, o padre Rush já argumentara que “o Papa Francisco, com a sua noção de ‘sinodalidade’, está simplesmente reunindo muitos elementos dessa visão do Concílio”. “Portanto, podemos dizer que estamos agora entrando numa fase mais profunda na recepção do Concílio Vaticano II”. Em citação aos escritos de Ratzinger de 1969, o sacerdote australiano argumentou que a Dei Verbum do Concílio Vaticano II apresenta “uma compreensão da revelação que é vista basicamente como diálogo”. “A leitura das Escrituras é descrita como um diálogo entre Deus e os seres humanos… O diálogo de Deus é sempre mantido no presente… com a intenção de nos forçar a responder”, disse Rush, citando Ratzinger. Assim, ele concluiu afirmando que “este Sínodo é um diálogo com Deus”. E, em sua opinião, “esse tem sido o privilégio e o desafio de suas ‘conversas no Espírito’. Deus está aguardando sua resposta.” Ratzinger, o progressista? Embora Rush tenha citado repetidamente Ratzinger no seu discurso, destaca-se que o padre australiano se inspirou fortemente nos escritos do falecido Papa Bento XIV logo após o Concílio Vaticano II. O historiador Roberto de Mattei, em sua extensa história do concílio, descreveu Ratzinger como um dos teólogos alemães que “se distinguiram” por estar “no ‘flanco em marcha’ do progressismo”. O jovem Ratzinger trabalhou em estreita colaboração com clérigos dissidentes como os Padres Karl Rahner, Bernard Häring e Yves Congar durante o concílio. Porém, o historiador acrescenta que, anos mais tarde, Ratzinger redescobriu o “papel da tradição e das instituições romanas”. O biógrafo de Ratzinger, Peter Seewald, argumentou que “é definitivamente assim que os seus impulsos contribuíram na época para o avanço do Modernismo na Igreja Católica”. No entanto, ele divergia na opinião de De Mattei, argumentando que Ratzinger não realizou uma “virada conservadora”. Para Seewald, “Ratzinger sempre foi um teólogo progressista”. E ele explica que “a noção de progressista estava [então] sendo entendida de forma diferente do que é hoje: como uma modernização da casa, não como a sua destruição”. Informações com o LifeSiteNews.
Terceira semana do Sínodo da Sinodalidade discute questões LGBT e diaconato feminino
Nesta terceira semana, o Sínodo da Sinodalidade aprofundou-se em dois temas tidos como cruciais: o acompanhamento de indivíduos LGBT e o tema de um diaconado feminino. E discutiu a estrutura da Igreja com o objectivo de moldar um futuro mais sinodal. A questão do debate sobre a temática LGBT foi minimizada pelo porta-voz do Vaticano, Paolo Ruffini, que afirmou que “a bênção dos casais homossexuais não é o tema do Sínodo”. No entanto, no dia 17 de outubro, a Irmã Jeannine Gramick, cofundadora do New Ways Ministry, reuniu-se com o Papa Francisco, juntamente de outros três membros da equipe do New Ways. O grupo é uma organização LGBT+ anteriormente denunciada tanto pela Conferência dos Bispos dos EUA como pelo escritório doutrinário do Vaticano por causar confusão sobre a moralidade sexual entre os fiéis católicos. A reunião foi divulgada pela mídia do Vaticano e considerada um endosso à abordagem do Ministério Novos Caminhos do Papa Francisco. No site do Sínodo, foi postado um vídeo do New Ways Ministry que convidava pessoas LGBT a participarem da assembleia e, após polêmica, ele foi removido. Além das questões LGBTQ+, o Sínodo também se envolveu em discussões relacionadas com o diaconato feminino e até contemplou a possibilidade de as mulheres fazerem homilias. Isso já acontece em situações como na Suíça germanófona, onde o padre é tratado quase como um mero oficial de consagração. O tema do “sacerdócio feminino” foi até abordado, levantando questões fundamentais sobre o papel das mulheres na Igreja, apesar das garantias dos organizadores do Sínodo de que mudanças na doutrina não estavam na agenda. Uma intervenção durante uma sessão matinal foi significativa nesta discussão. Respondendo aos apelos para a ordenação de mulheres não apenas ao diaconato, mas em alguns casos também ao sacerdócio, uma participante leiga argumentou que o foco na ordenação de mulheres é uma distração daquilo que as mulheres na Igreja precisam e é uma tentativa de clericalizar os leigos. A intervenção recebeu fortes aplausos. O novo calendário Os organizadores do Sínodo introduziram um calendário totalmente novo para os trabalhos. Mais notavelmente, o projeto do relatório resumido, descrito por Ruffini como “curto e transitório”, será agora apresentado aos delegados como um documento unificado, em vez de ser dividido em duas partes. O objetivo é permitir uma consideração mais substancial do “roteiro” para a próxima fase do processo sinodal que conduz à sessão de conclusão a ser realizada em outubro de 2024. Além disso, uma Carta ao Povo de Deus será publicada no final desta sessão sinodal, marcando uma mudança em relação à prática anterior de divulgá-la apenas no final de todo o processo sinodal. Como resultado, o Sínodo fará uma pausa nas suas atividades na tarde de 23 de outubro e durante todo o dia 24 de outubro para deliberações sobre a Carta da Assembleia ao Povo de Deus, discutida primeiro em círculos menores e depois entre a congregação geral mais ampla. Informações com a CNA.
‘Repensar toda a Igreja’ conforme a sinodalidade
A próxima etapa do Sínodo do Vaticano sobre a Sinodalidade começou ontem, quarta-feira, com um apelo para que se concentre na descentralização, na corresponsabilidade dos leigos e em mudanças concretas na Igreja institucional. Antes das discussões de ontem, dia 18 de outubro, os delegados foram apresentados a uma visão abrangente da Igreja hierárquica em uma exposição teológica do Padre Dario Vitali. “Quando chegarmos ao consenso de que a Igreja é constitutivamente sinodal, teremos que repensar toda a Igreja, todas as instituições, toda a vida da Igreja num sentido sinodal”, disse o teólogo italiano. O Padre Timothy Radcliffe, OP, também falou sobre “novos processos, instituições e estruturas”, e o Cardeal Jean-Claude Hollerich perguntou que mudanças concretas a assembleia sinodal pode trazer para os católicos leigos. Introduzindo os delegados do Sínodo no próximo tópico para discussão, o cardeal Hollerich destacou que “A grande mídia avaliará o Sínodo com base em possíveis mudanças em um número muito limitado de assuntos”. Porém, conforme o cardeal, os fiéis nas paróquias e nos conselhos pastorais “estão se perguntando o que mudará para eles, como poderão experimentar concretamente em suas vidas aquele discipulado missionário e a corresponsabilidade sobre os quais refletimos em nosso trabalho.” O tema introduzido para discussão foi “Participação, governança e autoridade”, última parte do Instrumentum Laboris. Conforme a seção B3, uma das prioridades abordadas durante a fase continental do Sínodo foi “a questão da autoridade, o seu significado e o estilo do seu exercício numa Igreja sinodal”. E pergunta “Como podemos imbuir as nossas estruturas e instituições com o dinamismo da Igreja sinodal missionária?” Repensar as instituições eclesiais Durante a fala introdutória, o padre Vitali, que é coordenador de teólogos especialistas no Sínodo, disse à assembleia que “a possibilidade de desenvolver um estilo e uma forma sinodal de Igreja depende da circularidade virtuosa do ‘sensus fidei’, do magistério e da teologia”. E, segundo o sacerdote, “um verdadeiro exercício de sinodalidade nos permitirá pensar com paciência e prudência sobre as reformas institucionais necessárias e os processos de tomada de decisão que envolvem todos num exercício de autoridade verdadeiramente adequada ao crescimento do povo de Deus, um povo maduro e participante neste horizonte”. O padre Vitali abordou os temas da autoridade e da descentralização na Igreja à luz da sinodalidade dizendo que “o processo sinodal pode ser entendido como o exercício mais completo de sinodalidade na Igreja Católica”, a partir do qual “podemos começar a repensar as instituições eclesiais”. E acrescentou que, “em vez de listar reformas individuais, devem ser indicados critérios que possam inspirar uma reforma da própria Igreja num sentido sinodal”. Como já destacado em matérias anteriores, o documento final deste encontro deve preparar as discussões para as reuniões no próximo ano. O padre Vitali continuou destacando que a sinodalidade “não enfatiza unilateralmente o papel do povo de Deus ou dos pastores, mas de todos os sujeitos – o povo de Deus, o Colégio dos Bispos, o bispo de Roma – articulando unidade dinâmica, sinodalidade, colegialidade e primazia.” E questionou “de que instituições precisamos para expressar quem somos como homens e mulheres de paz numa era de violência, habitantes do continente digital?”. Informações com a CNA.
Quem escreverá o relatório resumido do Sínodo da Sinodalidade?
Além de omitir os nomes de quem está sentado em quais pequenos grupos, o Vaticano também se recusa a compartilhar com os jornalistas a lista completa daqueles que redigirão o relatório de síntese final que reunirá todas as contribuições dos pequenos grupos, grupos e as Congregações Gerais. O porta-voz principal do Sínodo, Paolo Ruffini, disse aos repórteres em 11 de outubro que os principais redatores, os dois secretários especiais do Sínodo, estão sendo assistidos por “especialistas” sinodais, mas acrescentou que “não faz sentido fornecer seus nomes”. Alguns participantes do Sínodo, bem como alguns membros do conselho ordinário – também não foram informados sobre quem exatamente está redigindo o documento. Ruffini disse aos repórteres que “basta saber” os nomes dos 13 membros da comissão do relatório de síntese, anunciada em 10 de outubro, cuja tarefa, segundo os estatutos do Sínodo, “não é escrever, mas supervisionar, alterar e aprovar periodicamente” o projeto de relatório com vista à sua apresentação à assembleia. “Toda a assembleia irá aprová-lo, não apenas aqueles que ajudarem a escrevê-lo”, destacou o porta-voz. O relatório resumido é um documento crucial, pois terá como objetivo incluir uma síntese de todas as discussões votadas nos pequenos grupos. Cada rodada de discussão será resumida e votada. O resultado das votações é discutido em congregações gerais envolvendo todos os participantes do Sínodo. Porém, a falta de tempo significa, em termos práticos, que poucos terão a oportunidade de partilhar os seus pontos de vista. Uma congregação geral no final da assembleia receberá o texto completo do relatório resumido e os participantes terão uma última oportunidade de incorporar quaisquer alterações antes do seu retorno à assembleia para uma votação final sobre o documento. Conforme as regras sinodais, o relatório sumário não é um “documento conclusivo”, mas “visa regular a próxima fase do processo sinodal, que conduzirá à sessão de outubro de 2024, do ponto de vista da metodologia, etapas e temas”. Os secretários especiais Já são conhecidos os dois “secretários especiais” encarregados de preparar o documento com a assistência de especialistas sinodais. Eles são o padre jesuíta Giacomo Costa, da Itália, que chefiou o “grupo de trabalho sintetizador” para a etapa continental do Sínodo no ano passado, e Mons. Riccardo Battocchio, reitor do Almo Collegio Capranica e presidente da Associação Teológica Italiana. Ambos os sacerdotes demonstraram interesse público pela questão da homossexualidade, que tem sido tema de debate durante este Sínodo. O Padre Costa apoiou a legislação italiana anti-homofobia em 2021, que foi contestada tanto pelos bispos italianos como pelo Vaticano e que acabou por não ser aprovada no Senado italiano. O Mons. Battocchio falou na apresentação de um livro chamado Amor Homossexual em 2015, que visava abrir a discussão sobre o tema após sua predominância no Sínodo Extraordinário sobre a Família de 2014. Mas tão cruciais quanto os secretários do Sínodo são especialistas que ajudarão a redigi-lo. Prováveis Especialistas O National Catholic Register apurou que dos especialistas, dois deverão ser autores principais: Anna Rowlands, professora de Pensamento e Prática Social Católica na Universidade de Durham, Inglaterra, e membro do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral; e o Padre Eamon Conway, sacerdote da Arquidiocese de Tuam, na Irlanda, e atualmente professor de Desenvolvimento Humano Integral e Teologia Sistemática na Universidade Notre Dame, na Austrália. Anna Rowlands apresentou uma reflexão teológica ao Sínodo em 9 de outubro sobre o tema “Comunhão: A Festa das Bodas do Cordeiro”, está passando dois anos trabalhando com a Secretaria Geral do Sínodo e com o Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. O seu papel incluiu trabalhar em estreita colaboração com a equipe que gere o processo sinodal global e, no ano passado, desempenhou um papel fundamental no trabalho com o Padre Costa na elaboração do relatório da fase continental, no qual sublinhou a importância de atribuir mais papéis de liderança na Igreja às mulheres. Ela argumenta essa demanda foi frequentemente sublinhada nos relatórios que receberam. A sua universidade afirma que o seu papel no Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral é “apoiar o principal trabalho de investigação do departamento da Santa Sé que trata de questões de política, economia, clima e migração”. Conforme apurado pelo National Catholic Register, Anna Rowlands é uma aliada próxima de Austen Ivereigh, um facilitador do Sínodo, com inclinações progressistas semelhantes às dele, frequentemente republicando suas postagens nas redes sociais com outras pessoas com perspectivas políticas e religiosas semelhantes. Em 16 de outubro, o Vaticano anunciou que Rowlands receberia o Prêmio Razão Expandida da Fundação Vaticano Joseph Ratzinger por um artigo que ela apresentou intitulado: “Rumo a uma Política de Comunhão, Ensino Social Católico em Tempos Obscuros”. O segundo provável autor principal, o Padre Conway, escreveu e editou vários livros e serviu em vários órgãos consultivos do governo irlandês, incluindo a Comissão da Sociedade da Informação e o Painel Consultivo do Gabinete Nacional Irlandês de Aprendizagem sobre o Desenvolvimento Econômico e Social. Em 2012, o Papa Bento XVI nomeou-o conselheiro especialista do Sínodo sobre a Nova Evangelização. Desde 2011, o Padre Conway é presidente da Fundação Peter Hünermann para o Avanço da Teologia Católica na Europa. Em 2014 foi nomeado para um painel de peritos da Agência da Santa Sé para a promoção da garantia de qualidade nas universidades pontifícias e faculdades eclesiásticas por um período de cinco anos, e em 2015 foi nomeado para o Comitê de Teologia da Conferência Episcopal Irlandesa. Os seus interesses de investigação incluem os trabalhos de Karl Rahner e Hans Urs von Balthasar; fé e cultura, especialmente a interface entre cultura, tecnologia e religião. Nos últimos anos, ele tem estado na vanguarda da pesquisa e da defesa do caráter distintivo da Educação Católica e é cofundador do projeto internacional Global Researchers Advancing Catholic Education (G.R.A.C.E.). Comissão de Síntese Redigido o documento, ele será repassado aos membros da comissão do relatório de síntese, que inclui o Cardeal Hollerich; Cardeal Mario Grech, secretário-geral da secretaria do Sínodo; o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, de Kinshasa, Congo; o cardeal Gerald LaCroix, de Quebec; Cardeal George
Papa Francisco sugere que o Sínodo da Sinodalidade é uma continuação do Vaticano II
“O progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”, declarou o pontífice argentino em uma entrevista realizada em setembro à Télam Digital, mas divulgada hoje, 17 de outubro. O Sumo Pontífice abordou uma série de temas, incluindo o Sínodo sobre a Sinodalidade e o seu desejo de alterar a Igreja. Com o tema do Sínodo questionado, a agência nacional de notícias da Argentina, Francisco destacou como se deve entendê-lo à luz do Concílio Vaticano II. “Desde o Concílio Vaticano II, João XXIII teve uma percepção muito clara: a Igreja tem que mudar”, afirmou o Papa. E continuou “Paulo VI concordou, tal como os papas seguintes.” O Papa Francisco argumentou que tal “mudança” não se trata apenas de “mudar caminhos, trata-se de uma mudança de crescimento, em favor da dignidade das pessoas”. “Essa é a progressão teológica, da teologia moral e de todas as ciências eclesiásticas, mesmo na interpretação das Escrituras que progrediram conforme os sentimentos da Igreja”, disse. E condenou qualquer mudança feita através da “ruptura”, dizendo que “ou progredimos através do desenvolvimento, ou as coisas não correm bem. A ruptura deixa você fora da seiva do desenvolvimento.” O Sumo Pontífice utilizou a imagem de uma árvore para falar sobre a Tradição. “Todos temos tradições, uma família, todos nascemos dentro da cultura de um país, de uma cultura política. Todos nós temos uma tradição pela qual assumir responsabilidades”, disse. Tais comentários do Papa, ligando o Sínodo sobre a Sinodalidade ao Vaticano II, são recorrentes. Ainda ontem, um membro do Sínodo e teólogo envolvido na organização do processo sinodal afirmou que o Sínodo era “uma continuação do Vaticano II; agora a teologia do Vaticano II, e não a eclesiologia, está sendo revivida”. O Diálogo com Todos Embora aplauda as “tradições”, o Papa não renunciou ao seu desejo de implementar mudanças na Igreja. Ele argumentou que “o progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”. Referindo-se à Encarnação de Deus como homem, o Sumo Pontífice destacou como “a humanidade é algo consagrado por Deus. Ou seja, tudo o que é humano deve ser assumido e o progresso deve ser humano, em harmonia com a humanidade”. E, citando a “rapidez” dos desenvolvimentos científicos, o Papa Francisco afirmou que “a Igreja deve prestar muita atenção e ter os seus pensadores prontos para o diálogo”. Ele se baseia em São Vicente de Lérins: “Um teólogo do século IV dizia que as mudanças na Igreja devem obedecer a três condições para serem reais: consolidar-se, crescer e enobrecer-se ao longo dos anos. É uma definição muito inspiradora de Vicente de Lérins”. O Papa argumentou que “a Igreja tem de mudar” e apontou para um processo de mudança em vigor desde o Vaticano II: “Pensemos na forma como mudou desde o Concílio até agora e na forma como deve continuar a mudar os seus caminhos, no sentido de propor uma verdade imutável. Ou seja, a revelação de Jesus Cristo não muda, os dogmas da Igreja não mudam, crescem e enobrecem-se como a seiva de uma árvore.” O Papa também repetiu os seus comentários sobre “retroceder”, dizendo que quem não “segue este caminho, segue um caminho que dá passos para trás, um caminho que se fecha sobre si”. Para o Sumo Pontífice “As mudanças na Igreja ocorrem dentro deste fluxo de identidade da Igreja. E tem de continuar a mudar ao longo do caminho, à medida que os desafios são enfrentados. É por isso que o núcleo da mudança é fundamentalmente pastoral, sem renunciar à essência da Igreja.”
Resposta do Papa sobre a bênção das uniões homossexuais é “pastoralmente insustentável”
Em declaração no dia 12 de outubro publicada no seu site, o cardeal Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong e assinante dos dubias enviadas ao Papa em 11 de julho, disse que as respostas do Papa, enviadas um dia depois e que o Vaticano fez públicas no dia 2 de outubro, “não foram respostas precisas e não sanaram as dúvidas”. Como resultado, o Cardeal Zen emitiu seu próprio comunicado “para que os fiéis entendam por que nós cinco não as consideramos adequadas como respostas”. O cardeal começa refutando a tese do cardeal Víctor Manuel Fernánez, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, sobre a condição de cismático de quem levanta dúvidas a um Papa: Nenhum católico maduro acreditará que “quem contradiz o Santo Padre é um herege e cismático”, como afirmou Sua Eminência Víctor Manuel Fernández. Na verdade, o nosso Santo Padre é maravilhosamente humilde ao reconhecer os erros, os seus e os dos que o precederam na Igreja (por exemplo, viajou para o Canadá e passou seis dias dizendo “mea culpa” pelas alegadas crueldades cometidas muitos anos atrás contra jovens aborígenes em internatos). No presente caso, tenho fundadas dúvidas de que estas respostas não provenham da pena do Sumo Pontífice, pois desta vez posso citar a meu favor o que disse o Eminente Fernández sobre um documento assinado com autoridade do Papa: “Não consigo sentir o cheiro do Papa nele”. Na verdade, a incrível rapidez das respostas (11 de julho), especialmente em contraste com o caso dos outros famosos cinco Dubia de 2016 que foram simplesmente ignorados, faz suspeitar que estas respostas fazem parte do arsenal de respostas que os organizadores do Sínodo, provavelmente com a ajuda do “Eminente”, já se tinha preparado para responder aos perturbadores da sua agenda. No seu texto, o cardeal aborda as respostas aos cinco dubias. Quanto ao primeiro, recorde-se que a tese sobre o desenvolvimento do dogma de São John Henry Newman exige que seja homogêneo e desmonta os exemplos fornecidos na resposta pontifícia, como a posição da Igreja sobre a escravatura. Na resposta do Papa ao segundo dubium, que questionava se as bênçãos das uniões do mesmo sexo poderiam ser permitidas “sem trair a doutrina revelada”, Sua Santidade afirma que “o direito canônico não deve e não pode abranger tudo” e que um “discernimento prático” seria necessário em “circunstâncias particulares”. Tal resposta, segundo o cardeal Zen, era “pastoralmente insustentável”, acrescentando: “Como pode a Igreja, num assunto tão importante, deixar as pessoas sem uma regra clara e confiar no discernimento individual? Não será assim que surgirá um caos de casuística muito perigoso para as almas?” “Igualmente difícil”, escreveu o bispo emérito de Hong Kong, foi o parágrafo que “permite certas formas de bênção das uniões homossexuais”, ao qual perguntou: “tal união não implica atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo, o que é claramente pecaminoso? Assim como qualquer atividade sexual fora do casamento legítimo é pecaminosa?” Quanto à resposta ao terceiro dubium, o cardeal chinês sublinha que é necessário clarificar o conceito de sinodalidade para que a constituição hierárquica da Igreja não seja encerrada. Sobre o quarto dubium, o bispo emérito de Hong Kong recorda que o Concílio Vaticano II ensina que a diferença entre o sacerdócio comum de todos os fiéis e o de quem recebe o sacramento da ordem é não só de grau, mas de essência, algo que não fica claro na resposta de Francisco. Finalmente, o cardeal lamenta que, na resposta ao quinto dubium, sugira-se que tentar fazer cumprir as normas para que o sacramento da confissão seja validamente celebrado é transformar a Igreja numa alfândega. Os cinco cardeais que apresentaram os dubia ao Papa explicaram publicamente que as respostas recebidas eram pouco claras e imprecisas, por isso apresentaram novos dubia reformulados no dia 21 de agosto visando obter respostas claras de “Sim” e “Não”. Até agora, o Papa não respondeu. O cardeal Zen disse que devido à “pressão do tempo”, não consultou os outros quatro cardeais sobre a sua declaração de 12 de outubro, acrescentando que é, portanto, “pessoalmente responsável por esta iniciativa”. Informações com o InfoCatólica.
Os mais iguais
Por Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz O escritor inglês George Orwell (1903-1950) escreveu “A revolução dos bichos”, uma sátira da Revolução Comunista de 1917. Os animais, oprimidos pelo fazendeiro e sua família, resolvem, liderados pelos porcos, fazer uma revolução, tomar posse da granja, dar-lhe o nome de “Granja dos Bichos” e instaurar um regime chamado “animalismo”. Entre os mandamentos do animalismo, ditados pelos porcos, há um que é fundamental: “Todos os animais são iguais”. No entanto, ao longo do tempo, os porcos passam a adquirir direitos que os demais animais não possuíam. Para justificar tais privilégios, os porcos resolvem, então, alterar o mandamento da igualdade: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”. * * * Diz a Constituição Federal, no caput de seu artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Seria de se esperar que essa igualdade atingisse também o nascituro (a criança por nascer). Se as pessoas já nascidas têm direito à vida, o nascituro deveria gozar do mesmo direito. Agir de outro modo seria cometer um preconceito de lugar: dentro e fora do útero. No entanto, a Ministra Rosa Weber, em seu voto na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 442, proferido em 22.09.2023, diz que a igualdade perante a lei, a que se refere a Constituição, não alcança o bebê no ventre materno. Eis suas palavras: Não há igualdade de posição jurídica subjetiva entre pessoas nascidas e o embrião ou feto (p. 27). A norma inscrita no art. 5º, caput, da CF, não prescreve o feto como uma pessoa constitucional, sujeito titular de direitos fundamentais (p. 27-28). Não há que se falar em direito fundamental à vida do embrião ou feto (p. 29). Se o Código Civil diz que “a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro” (art. 2º, parte final), isso não significa, para a Ministra, que os direitos do nascituro sejam equivalentes aos dos já nascidos. Poderia Rosa Weber, parodiando George Orwell, dizer: “Todos são iguais perante a lei. Mas os nascidos são mais iguais do que os nascituros”. * * * Curiosamente, a Ministra conhece o Pacto de São José da Costa Rica e gasta muitas páginas comentando o seu artigo 4º: Art. 4. n. 1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Este direito estará protegido pela lei e, em geral, a partir do momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. A cláusula “em geral” significaria, segundo Weber, uma exceção ao direito à vida “a partir do momento da concepção”. Infelizmente, a Ministra não faz qualquer alusão ao artigo 3º da mesma Convenção: Art. 1, n. 2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano. Art. 3. Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica. Combinando logicamente as duas sentenças, temos a conclusão: Todo ser humano tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica. Portanto, o direito de ser reconhecido como pessoa cabe a todo ser humano, sem distinção de lugar (dentro ou fora do organismo materno) e sem exceções. Trata-se de um direito absoluto. Logo, para a referida Convenção, o nascituro é pessoa[1]. Ora, por definição, pessoa é sujeito de direitos. E entre os direitos, não pode faltar o direito à vida, sem o qual nenhum outro tem consistência. Se o nascituro é reconhecido como pessoa – assim o afirma o Pacto de São José da Costa Rica – como entender a cláusula “em geral”, que aparece no artigo 4º, quando se fala da proteção de seu direito à vida? Não é possível interpretá-la como uma excepcionalização, pois uma pessoa sem direito à vida é um monstro lógico. A única interpretação possível é a de uma generalização, ou seja, como sinônimo de sempre. Isso traz consequências importantíssimas, que a Ministra quisera evitar: Não há aborto legal. A hipótese do artigo 128, inciso II do Código Penal (quando a gravidez resulta de estupro) não é “excludente de ilicitude”, como pretende a Ministra (cf. p. 25), mas simples escusa absolutória, mera não aplicação da pena ao criminoso, sem que o aborto deixe de ser crime. Em nenhuma hipótese o aborto pode ser legal, uma vez que ele é inconciliável com a personalidade do nascituro reconhecida desde a concepção. O pedido da ADPF 442, de que os artigos 124 e 126 do Código Penal sejam reinterpretados de modo a não incluir o aborto praticado nas doze primeiras semanas de vida só pode ter resposta negativa. * * * Ao iniciar seu voto, a Ministra reconhece que o que ela vai decidir é contra a vontade da maioria: “O aborto é contrário à moral majoritária da sociedade” (p. 6). Ela, porém, afirma que a tutela dos direitos fundamentais pela Constituição é “por essência de natureza contramajoritária” (p. 7). E mais ainda: “o conceito de democracia não se fisionomiza, nas sociedades contemporâneas, pela simples prevalência do princípio majoritário” (p. 18). Parece que, segundo ela, o Supremo Tribunal Federal teria o direito de “corrigir” a vontade da maioria, que se opõe ao aborto, a fim de fazer prevalecer a vontade de uma minoria, que pleiteia o direito ao aborto. Faltou dizer quem outorgou à Suprema Corte tamanho poder. No fim de seu voto, Rosa Weber, esquecendo-se de que é juíza, passa a comportar-se como parte. Usa a primeira pessoa do plural (“nós”) como se representasse as “mulheres”, mesmo sabendo que a maioria delas é contrária ao aborto: Nós, mulheres, não tivemos como expressar nossa voz na arena democrática. Fomos silenciadas! (p. 128). O que ela não percebe é que seu voto pretende silenciar a voz do nascituro. Anápolis, 5 de outubro de 2023. Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz Vice-presidente do Pró-Vida de Anápolis. [1] O que torna inaplicável a primeira parte do artigo 2º do Código Civil: “A personalidade civil da pessoa começa do seu nascimento com vida”. Fonte: https://providaanapolis.org.br/os-mais-iguais/








