Papa Francisco sugere que o Sínodo da Sinodalidade é uma continuação do Vaticano II

“O progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”, declarou o pontífice argentino em uma entrevista realizada em setembro à Télam Digital, mas divulgada hoje, 17 de outubro. O Sumo Pontífice abordou uma série de temas, incluindo o Sínodo sobre a Sinodalidade e o seu desejo de alterar a Igreja. Com o tema do Sínodo questionado, a agência nacional de notícias da Argentina, Francisco destacou como se deve entendê-lo à luz do Concílio Vaticano II. “Desde o Concílio Vaticano II, João XXIII teve uma percepção muito clara: a Igreja tem que mudar”, afirmou o Papa. E continuou “Paulo VI concordou, tal como os papas seguintes.” O Papa Francisco argumentou que tal “mudança” não se trata apenas de “mudar caminhos, trata-se de uma mudança de crescimento, em favor da dignidade das pessoas”. “Essa é a progressão teológica, da teologia moral e de todas as ciências eclesiásticas, mesmo na interpretação das Escrituras que progrediram conforme os sentimentos da Igreja”, disse. E condenou qualquer mudança feita através da “ruptura”, dizendo que “ou progredimos através do desenvolvimento, ou as coisas não correm bem. A ruptura deixa você fora da seiva do desenvolvimento.” O Sumo Pontífice utilizou a imagem de uma árvore para falar sobre a Tradição. “Todos temos tradições, uma família, todos nascemos dentro da cultura de um país, de uma cultura política. Todos nós temos uma tradição pela qual assumir responsabilidades”, disse. Tais comentários do Papa, ligando o Sínodo sobre a Sinodalidade ao Vaticano II, são recorrentes. Ainda ontem, um membro do Sínodo e teólogo envolvido na organização do processo sinodal afirmou que o Sínodo era “uma continuação do Vaticano II; agora a teologia do Vaticano II, e não a eclesiologia, está sendo revivida”. O Diálogo com Todos Embora aplauda as “tradições”, o Papa não renunciou ao seu desejo de implementar mudanças na Igreja. Ele argumentou que “o progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”. Referindo-se à Encarnação de Deus como homem, o Sumo Pontífice destacou como “a humanidade é algo consagrado por Deus. Ou seja, tudo o que é humano deve ser assumido e o progresso deve ser humano, em harmonia com a humanidade”. E, citando a “rapidez” dos desenvolvimentos científicos, o Papa Francisco afirmou que “a Igreja deve prestar muita atenção e ter os seus pensadores prontos para o diálogo”. Ele se baseia em São Vicente de Lérins: “Um teólogo do século IV dizia que as mudanças na Igreja devem obedecer a três condições para serem reais: consolidar-se, crescer e enobrecer-se ao longo dos anos. É uma definição muito inspiradora de Vicente de Lérins”. O Papa argumentou que “a Igreja tem de mudar” e apontou para um processo de mudança em vigor desde o Vaticano II: “Pensemos na forma como mudou desde o Concílio até agora e na forma como deve continuar a mudar os seus caminhos, no sentido de propor uma verdade imutável. Ou seja, a revelação de Jesus Cristo não muda, os dogmas da Igreja não mudam, crescem e enobrecem-se como a seiva de uma árvore.” O Papa também repetiu os seus comentários sobre “retroceder”, dizendo que quem não “segue este caminho, segue um caminho que dá passos para trás, um caminho que se fecha sobre si”. Para o Sumo Pontífice “As mudanças na Igreja ocorrem dentro deste fluxo de identidade da Igreja. E tem de continuar a mudar ao longo do caminho, à medida que os desafios são enfrentados. É por isso que o núcleo da mudança é fundamentalmente pastoral, sem renunciar à essência da Igreja.”

Resposta do Papa sobre a bênção das uniões homossexuais é “pastoralmente insustentável”

Em declaração no dia 12 de outubro publicada no seu site, o cardeal Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong e assinante dos dubias enviadas ao Papa em 11 de julho, disse que as respostas do Papa, enviadas um dia depois e que o Vaticano fez públicas no dia 2 de outubro, “não foram respostas precisas e não sanaram as dúvidas”. Como resultado, o Cardeal Zen emitiu seu próprio comunicado “para que os fiéis entendam por que nós cinco não as consideramos adequadas como respostas”. O cardeal começa refutando a tese do cardeal Víctor Manuel Fernánez, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, sobre a condição de cismático de quem levanta dúvidas a um Papa: Nenhum católico maduro acreditará que “quem contradiz o Santo Padre é um herege e cismático”, como afirmou Sua Eminência Víctor Manuel Fernández. Na verdade, o nosso Santo Padre é maravilhosamente humilde ao reconhecer os erros, os seus e os dos que o precederam na Igreja (por exemplo, viajou para o Canadá e passou seis dias dizendo “mea culpa” pelas alegadas crueldades cometidas muitos anos atrás contra jovens aborígenes em internatos). No presente caso, tenho fundadas dúvidas de que estas respostas não provenham da pena do Sumo Pontífice, pois desta vez posso citar a meu favor o que disse o Eminente Fernández sobre um documento assinado com autoridade do Papa: “Não consigo sentir o cheiro do Papa nele”. Na verdade, a incrível rapidez das respostas (11 de julho), especialmente em contraste com o caso dos outros famosos cinco Dubia de 2016 que foram simplesmente ignorados, faz suspeitar que estas respostas fazem parte do arsenal de respostas que os organizadores do Sínodo, provavelmente com a ajuda do “Eminente”, já se tinha preparado para responder aos perturbadores da sua agenda. No seu texto, o cardeal aborda as respostas aos cinco dubias. Quanto ao primeiro, recorde-se que a tese sobre o desenvolvimento do dogma de São John Henry Newman exige que seja homogêneo e desmonta os exemplos fornecidos na resposta pontifícia, como a posição da Igreja sobre a escravatura. Na resposta do Papa ao segundo dubium, que questionava se as bênçãos das uniões do mesmo sexo poderiam ser permitidas “sem trair a doutrina revelada”, Sua Santidade afirma que “o direito canônico não deve e não pode abranger tudo” e que um “discernimento prático” seria necessário em “circunstâncias particulares”. Tal resposta, segundo o cardeal Zen, era “pastoralmente insustentável”, acrescentando: “Como pode a Igreja, num assunto tão importante, deixar as pessoas sem uma regra clara e confiar no discernimento individual? Não será assim que surgirá um caos de casuística muito perigoso para as almas?” “Igualmente difícil”, escreveu o bispo emérito de Hong Kong, foi o parágrafo que “permite certas formas de bênção das uniões homossexuais”, ao qual perguntou: “tal união não implica atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo, o que é claramente pecaminoso? Assim como qualquer atividade sexual fora do casamento legítimo é pecaminosa?” Quanto à resposta ao terceiro dubium, o cardeal chinês sublinha que é necessário clarificar o conceito de sinodalidade para que a constituição hierárquica da Igreja não seja encerrada. Sobre o quarto dubium, o bispo emérito de Hong Kong recorda que o Concílio Vaticano II ensina que a diferença entre o sacerdócio comum de todos os fiéis e o de quem recebe o sacramento da ordem é não só de grau, mas de essência, algo que não fica claro na resposta de Francisco. Finalmente, o cardeal lamenta que, na resposta ao quinto dubium, sugira-se que tentar fazer cumprir as normas para que o sacramento da confissão seja validamente celebrado é transformar a Igreja numa alfândega. Os cinco cardeais que apresentaram os dubia ao Papa explicaram publicamente que as respostas recebidas eram pouco claras e imprecisas, por isso apresentaram novos dubia reformulados no dia 21 de agosto visando obter respostas claras de “Sim” e “Não”. Até agora, o Papa não respondeu. O cardeal Zen disse que devido à “pressão do tempo”, não consultou os outros quatro cardeais sobre a sua declaração de 12 de outubro, acrescentando que é, portanto, “pessoalmente responsável por esta iniciativa”. Informações com o InfoCatólica.

Os mais iguais

Por Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz O escritor inglês George Orwell (1903-1950) escreveu “A revolução dos bichos”, uma sátira da Revolução Comunista de 1917. Os animais, oprimidos pelo fazendeiro e sua família, resolvem, liderados pelos porcos, fazer uma revolução, tomar posse da granja, dar-lhe o nome de “Granja dos Bichos” e instaurar um regime chamado “animalismo”. Entre os mandamentos do animalismo, ditados pelos porcos, há um que é fundamental: “Todos os animais são iguais”. No entanto, ao longo do tempo, os porcos passam a adquirir direitos que os demais animais não possuíam. Para justificar tais privilégios, os porcos resolvem, então, alterar o mandamento da igualdade: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”. * * * Diz a Constituição Federal, no caput de seu artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Seria de se esperar que essa igualdade atingisse também o nascituro (a criança por nascer). Se as pessoas já nascidas têm direito à vida, o nascituro deveria gozar do mesmo direito. Agir de outro modo seria cometer um preconceito de lugar: dentro e fora do útero. No entanto, a Ministra Rosa Weber, em seu voto na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 442, proferido em 22.09.2023, diz que a igualdade perante a lei, a que se refere a Constituição, não alcança o bebê no ventre materno. Eis suas palavras: Não há igualdade de posição jurídica subjetiva entre pessoas nascidas e o embrião ou feto (p. 27). A norma inscrita no art. 5º, caput, da CF, não prescreve o feto como uma pessoa constitucional, sujeito titular de direitos fundamentais (p. 27-28). Não há que se falar em direito fundamental à vida do embrião ou feto (p. 29). Se o Código Civil diz que “a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro” (art. 2º, parte final), isso não significa, para a Ministra, que os direitos do nascituro sejam equivalentes aos dos já nascidos. Poderia Rosa Weber, parodiando George Orwell, dizer: “Todos são iguais perante a lei. Mas os nascidos são mais iguais do que os nascituros”. * * * Curiosamente, a Ministra conhece o Pacto de São José da Costa Rica e gasta muitas páginas comentando o seu artigo 4º: Art. 4. n. 1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Este direito estará protegido pela lei e, em geral, a partir do momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. A cláusula “em geral” significaria, segundo Weber, uma exceção ao direito à vida “a partir do momento da concepção”. Infelizmente, a Ministra não faz qualquer alusão ao artigo 3º da mesma Convenção: Art. 1, n. 2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano. Art. 3. Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica. Combinando logicamente as duas sentenças, temos a conclusão: Todo ser humano tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica. Portanto, o direito de ser reconhecido como pessoa cabe a todo ser humano, sem distinção de lugar (dentro ou fora do organismo materno) e sem exceções. Trata-se de um direito absoluto. Logo, para a referida Convenção, o nascituro é pessoa[1]. Ora, por definição, pessoa é sujeito de direitos. E entre os direitos, não pode faltar o direito à vida, sem o qual nenhum outro tem consistência. Se o nascituro é reconhecido como pessoa – assim o afirma o Pacto de São José da Costa Rica – como entender a cláusula “em geral”, que aparece no artigo 4º, quando se fala da proteção de seu direito à vida? Não é possível interpretá-la como uma excepcionalização, pois uma pessoa sem direito à vida é um monstro lógico. A única interpretação possível é a de uma generalização, ou seja, como sinônimo de sempre. Isso traz consequências importantíssimas, que a Ministra quisera evitar: Não há aborto legal. A hipótese do artigo 128, inciso II do Código Penal (quando a gravidez resulta de estupro) não é “excludente de ilicitude”, como pretende a Ministra (cf. p. 25), mas simples escusa absolutória, mera não aplicação da pena ao criminoso, sem que o aborto deixe de ser crime. Em nenhuma hipótese o aborto pode ser legal, uma vez que ele é inconciliável com a personalidade do nascituro reconhecida desde a concepção. O pedido da ADPF 442, de que os artigos 124 e 126 do Código Penal sejam reinterpretados de modo a não incluir o aborto praticado nas doze primeiras semanas de vida só pode ter resposta negativa. * * * Ao iniciar seu voto, a Ministra reconhece que o que ela vai decidir é contra a vontade da maioria: “O aborto é contrário à moral majoritária da sociedade” (p. 6). Ela, porém, afirma que a tutela dos direitos fundamentais pela Constituição é “por essência de natureza contramajoritária” (p. 7). E mais ainda: “o conceito de democracia não se fisionomiza, nas sociedades contemporâneas, pela simples prevalência do princípio majoritário” (p. 18). Parece que, segundo ela, o Supremo Tribunal Federal teria o direito de “corrigir” a vontade da maioria, que se opõe ao aborto, a fim de fazer prevalecer a vontade de uma minoria, que pleiteia o direito ao aborto. Faltou dizer quem outorgou à Suprema Corte tamanho poder. No fim de seu voto, Rosa Weber, esquecendo-se de que é juíza, passa a comportar-se como parte. Usa a primeira pessoa do plural (“nós”) como se representasse as “mulheres”, mesmo sabendo que a maioria delas é contrária ao aborto: Nós, mulheres, não tivemos como expressar nossa voz na arena democrática. Fomos silenciadas! (p. 128). O que ela não percebe é que seu voto pretende silenciar a voz do nascituro. Anápolis, 5 de outubro de 2023. Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz Vice-presidente do Pró-Vida de Anápolis. [1] O que torna inaplicável a primeira parte do artigo 2º do Código Civil: “A personalidade civil da pessoa começa do seu nascimento com vida”. Fonte: https://providaanapolis.org.br/os-mais-iguais/

Esta semana no Sínodo sobre Sinodalidade

Nesta semana, o Sínodo sobre a Sinodalidade no Vaticano terá outra à medida que a reunião muda do trabalho em pequenos grupos para uma assembleia plenária – uma das “Congregationes Generales” oficiais. Também haverá oportunidade de participação dos jornalistas. Ao final da discussão de cada seção do documento, o Cardeal Jean-Claude Hollerich enquanto relator-geral, fará uma declaração. O próximo relatório – chamado de “apresentação” na programação do Sínodo – está previsto para 13 de outubro e outro acontecerá em 18 de outubro. Agenda Oculta? Persistem preocupações sobre o potencial dos grupos de pressão influenciarem o decorrer do Sínodo. Na sexta-feira passada, o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, afirmou que ninguém traria agendas pessoais e muito menos tentaria impô-las aos outros. “Não há agenda; somos todos irmãos e irmãs”, reiterou o prelado africano. O cardeal congolês também disse que o resultado do processo seria “bem-vindo por todos como a vontade de Deus”. Menções à busca de comunhão no Sínodo não surpreendem. São um mantra comum em muitas conversas paralelas. Antes de 2014, o termo “consenso sinodal” estava na ordem do dia, com os documentos sujeitos a votação parágrafo por parágrafo. A ausência de uma maioria de dois terços dos votos levou à retenção da publicação de documentos, uma prática que visa promover a comunhão em vez da divisão. Numa tentativa de aparente transparência, o Papa Francisco divulgou anteriormente de forma consistente todas as formas de documentos finais e a contagem dos votos. Para este Sínodo, em vez de um documento final, será divulgado um documento resumido, cuja aprovação dependerá mais do relato geral da experiência do Sínodo do que de capítulos específicos. Em Outubro de 2024, a aprovação do texto final pela assembleia pode anular o documento de resumo. Agenda da Semana Há muita expectativa para a tarde desta segunda-feira, quando a comissão sinodal designada para redigir o documento resumido votará. Esse resultado – revelando os nomes dos membros da comissão – pode fornecer uma prévia da formulação do documento ou, pelo menos, sugerir o tom geral dos textos e, portanto, de todo o Sínodo. Conforme o calendário oficial, dois pontos-chave do Instrumentum Laboris, o documento de trabalho, estão programados para discussão esta semana: Seção B1: “Como podemos ser mais plenamente sinal e instrumento de união com Deus e unidade da raça humana?” Seção B2: “Corresponsáveis pela missão” com uma pergunta central: “Como partilhar tarefas e dons ao serviço do Evangelho?” Os pequenos grupos de trabalho – “circoli minori” – deverão apresentar as suas intervenções no dia 11 de outubro, seguidas da finalização e apresentação dos seus relatórios à Secretaria-Geral no dia 12 de outubro. O processo termina com uma tarde livre destinada a uma peregrinação, presumivelmente às catacumbas romanas. A partir de 13 de outubro, a seção B2 do Instrumentum Laboris será examinada. Duas tardes desta semana são reservadas para a “conversa do Espírito”, descrita como um momento de discernimento comum para o Sínodo. Descrito nas seções 37 a 39 do Instrumentum Laboris, este processo abrange três fases: deliberação profunda antes de falar na assembleia, um período de silêncio e oração para ressoar com os pedidos dos outros, e uma sessão para identificar questões-chave e forjar um consenso comum. As “conversas do espírito” visam elaborar um documento que incorpore o consenso e o espírito comunitário. Ainda não se sabe se esse objetivo será alcançado. O facto de o Cardeal Hollerich já ter sugerido um roteiro para o ano seguinte implica, por enquanto, um mergulho cauteloso nas águas. No próximo ano, estas “conversas” poderão concentrar-se em tópicos específicos com um enfoque mais nítido, embora isso continue a ser terreno especulativo. Reformas para além do Sínodo? No início do Sínodo, a ênfase na confidencialidade – expressa pelo Papa Francisco – mostrou preocupação com as agendas impulsionadas pelos meios de comunicação social. No entanto, há aparentes tentativas em curso esta semana por parte de certos grupos de interesse para impulsionar a sua respectiva agenda, na esperança de mudar a própria essência da Igreja Católica. Reformadores autonomeados lideram uma conferência chamada “Spirit Unbounded”, agendada para os dias 8 a 14 de outubro e online. Dois documentos enquadram este evento, o Texto de Bristol e uma proposta de constituição para a Igreja Católica. A leitura do Texto de Bristol revela uma agenda clara: o documento retrata a Igreja como uma entidade “secular”, clamando por “estruturas democráticas a todos os níveis”, defendendo que o direito canônico se alinhe com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e apelando a uma reformulação do ministério litúrgico. A proposta de uma constituição para a Igreja Católica ecoa um tom secular ao delinear uma constituição de autoria humana. No entanto, reafirma o Evangelho como referência primeira para todo cristão. A ideia de uma Igreja democratizada é comum ao Caminho Sinodal Alemão. Informações com a CNA.

Cardeal Zen expressa preocupação com o Sínodo sobre a Sinodalidade

Em carta vazada aos bispos poucos dias antes do Sínodo sobre a Sinodalidade iniciar sua primeira rodada de reuniões no Vaticano, o cardeal Joseph Zen expressa sérias preocupações aos cardeais e bispos de todo o mundo sobre a reunião em Roma, e defende mudanças no Sínodo. A carta data de 21 de setembro – festa do Apóstolo São Mateus – e acusa os organizadores do Sínodo de manipulação e de perseguir uma agenda em vez de permitir um discurso eclesiástico autêntico. O cardeal Zen examina o enquadramento teológico da sinodalidade recorrendo a um documento recente da Comissão Teológica Internacional, “Sinodalidade na vida e missão da Igreja”, sublinhando que a sinodalidade, na sua essência, refere-se à “comunhão e participação de todos os membros da Igreja na missão de evangelização”. Na carta, o cardeal expressa reservas sobre a escassa referência a este documento crítico aprovado pelo Vaticano nos materiais preparatórios para o Sínodo, o que sugere um potencial desvio dos princípios eclesiásticos fundamentais. Um deles é “o ministério colegial dos bispos”, que se baseia nos fundamentos teológicos do Concílio Vaticano II. “Fico confuso porque, por um lado, dizem que a sinodalidade é um elemento constitutivo da Igreja, mas, por outro lado, me dizem que é isso que Deus espera de nós para este século (como uma novidade?)”. O cardeal, que assinou os dubia antes do Sínodo questiona: “como pode Deus ter-se esquecido de fazer com que a sua Igreja viva este elemento constitutivo nos 20 séculos da sua existência?” Zen compartilha “confusão e preocupação ainda maiores” sobre “a sugestão feita de que finalmente chegou o dia de derrubar a pirâmide, isto é, com a hierarquia superada pelos leigos”. Em discurso em 2015, o Papa Francisco usou a imagem de uma pirâmide invertida descrevendo o papel do apóstolo Pedro como a “rocha” sobre a qual a Igreja está fundada. Nas palavras do Santo Padre: “nesta Igreja, como numa pirâmide invertida, o topo está localizado abaixo da base”. Com base nessa fala, o Padre Ormond Rush, participante do Sínodo sobre Sinodalidade, defendeu mudanças na eclesiologia e na organização da Igreja. O Caminho Sinodal Alemão No centro da crítica do cardeal Zen está o Caminho Sinodal Alemão, cujos participantes votaram a favor de documentos que apelam à ordenação sacerdotal de mulheres, bênçãos para pessoas do mesmo sexo e mudanças no ensinamento da Igreja sobre atos homossexuais, provocando acusações de heresia e receios de cisma. As preocupações foram levantadas publicamente pelo Papa Francisco, bem como pelos líderes da Igreja da Polônia, dos países nórdicos e de todo o mundo. Os organizadores alemães rejeitaram todas as intervenções, pressionando em vez disso a instalação de um Conselho Sinodal Alemão permanente para supervisionar a Igreja na Alemanha e implementar mudanças controversas. No entanto, o cardeal observa que o papa “nunca ordenou que este processo na Alemanha” tivesse de parar, e que o seu discurso aos bispos alemães durante a sua visita ad limina em 2022 – normalmente publicado no jornal do Vaticano L’Osservatore Romano – permaneceu secreto. Em março, os bispos alemães anunciaram que avançavam com os seus planos. Considerando o processo alemão, a carta do cardeal Zen alerta para tentativas de afastamento da ordem eclesiástica tradicional, sugerindo que qualquer aparente reorientação democrática está associada a propostas de mudanças revolucionárias na constituição da Igreja e nos ensinamentos morais sobre a sexualidade. Uma agenda e conclusões precipitadas? A carta também acusa o Secretariado do Sínodo – o escritório do Vaticano responsável pela organização do Sínodo sobre a Sinodalidade – de conduta questionável. “O Secretariado do Sínodo é muito eficiente na arte da manipulação”, escreve o cardeal. E acrescenta que: “muitas vezes afirmam não ter qualquer agenda. Isto é verdadeiramente uma ofensa à nossa inteligência. Qualquer um pode ver a que conclusões pretende chegar.” O cardeal Zen escreve que os organizadores, embora enfatizem a necessidade de “ouvir todos”, concentram-se num grupo em particular: “Aos poucos eles nos fazem compreender que entre estes ‘todos’ há especialmente aqueles que ‘excluímos’. Finalmente, entendemos que o que querem dizer são pessoas que optam por uma moral sexual diferente daquela da tradição católica”. Ele acusa os organizadores de tentarem evitar discussões honestas e espirituosas, afirmando que é mediante um diálogo tão aberto e robusto, como durante o Concílio Vaticano II, que o Espírito Santo verdadeiramente opera. “Parece-me que no Vaticano II, antes de chegar a uma conclusão quase unânime, dedicaram muito tempo a discussões animadas. Foi lá que o Espírito Santo trabalhou. Evitar discussões é evitar a verdade.” A carta apela aos bispos para que não se limitem a obedecer às diretivas processuais sem questionar, instando-os a acumular orações bem antes do Sínodo, emulando os preparativos espirituais de São João XXIII antes do Vaticano II. “Estou ciente de que no Sínodo sobre a Família o Santo Padre rejeitou sugestões apresentadas por vários cardeais e bispos precisamente em relação ao procedimento. Se, no entanto, apresentar respeitosamente uma petição apoiada por numerosos signatários, talvez esta seja aceite. De qualquer forma, você terá cumprido seu dever. Aceitar um procedimento irracional é condenar o Sínodo ao fracasso”. O cardeal de 91 anos encerra com outro apelo aos seus irmãos bispos e cardeais para orarem e uma petição para mudar os procedimentos sinodais. “Esta carta que estou escrevendo pretendo ser confidencial, mas não será fácil mantê-la fora do alcance dos meios de comunicação de massa. Velho como sou, não tenho nada a ganhar e nada a perder. Ficarei feliz por fazer o que considero ser meu dever fazer.” Informações com a CNA.

Bispos europeus premiam a presidente do Parlamento Europeu por defender os valores cristãos

A Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE) concedeu o prêmio In Veritate 2023 à maltesa Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu. A premiação é atribuída a personalidades em reconhecimento das suas realizações notáveis na combinação dos valores cristãos e europeus. O prêmio leva o nome de Dom Tadeusz Pieronek, o falecido bispo polonês e promotor da Conferência Internacional de Cracóvia. Em seu discurso após receber o prêmio, destacou que os valores cristãos e europeus “nos ajudarão a preparar-nos para uma futura União Europeia que incluirá democracias com ideias semelhantes, como a Ucrânia, a Moldávia, a Geórgia e os Bálcãs Ocidentais”. E destacou o espírito acolhedor da União Europeia, que recebeu milhares de refugiados ucranianos nos últimos anos, afirmando que o Parlamento Europeu continuará a defender firmemente “os seus valores cristãos e europeus, a fé e a esperança de uma paz duradoura”. O Padre Manuel Barrios Prieto, secretário-geral da COMECE, sublinhou o compromisso de Metsola com “a democracia, os valores cristãos e o avanço do processo de integração europeia”. Referiu-se também ao presidente do Parlamento Europeu como “um exemplo a seguir”. Pessoalmente contra o aborto, Roberta Matsola se comprometeu a defender a posição da maioria do Parlamento Europeu enquanto representante da entidade. A maioria é favorável ao assassinato de crianças no ventre materno. Na abertura da XXIII Conferência Internacional de Cracóvia, o Padre Barrios afirmou que o evento é de grande importância para o diálogo entre políticos, acadêmicos, meios de comunicação, sociedade civil e Igreja. Recordou também “os dois sonhos do Papa Francisco para a Europa de hoje: união e paz”. O prêmio In Veritate 2023 também foi concedido ao Padre Andrzej Boniecki, editor-chefe honorário do semanário polonês Tygodnik Powszechny. Informações com ACIPrensa.

Papa Francisco publica nova Exortação Apostólica sobre mudanças climáticas

Em continuidade com a sua encíclica Laudato si, de 2015, o Papa Francisco publicou hoje a Exortação Apostólica Laudate Deum, sobre as mudanças climáticas. O documento é dividido em seis capítulos e 73 parágrafos, nos quais o Sumo Pontífice tenta esclarecer e completar seu texto anterior sobre ecologia integral. A data de hoje foi escolhida para a publicação por ser a festa de São Francisco de Assis. O documento também antecipa a COP28, que se realizará em Dubai entre o final de novembro e o início de dezembro. O Papel do Ser Humano No texto, o Papa afirma a impossibilidade de negar as alterações climáticas. “Os últimos anos temos assistido a fenômenos meteorológicos extremos, frequentes períodos de calor anormal, secas e outros gritos de protesto por parte da terra”, destaca o Pontífice. E reforça que “é verificável que mudanças climáticas específicas provocadas pela humanidade estão a aumentar notavelmente a probabilidade de fenômenos extremos que são cada vez mais frequentes e intensos”. O Santo Padre também critica os que culpam os pobres pelas mudanças climáticas, contrapondo que “uma percentagem baixa e mais rica do planeta contamina mais do que os 50% mais pobres da população mundial total, e que as emissões per capita dos países mais ricos são muito maiores do que as dos mais pobres.” Falando sobre o paradigma tecnocrático, que consiste em pensar que “a realidade, o bem e a verdade fluem automaticamente do poder tecnológico e econômico enquanto tal”, o Papa Francisco destaca que “nada garante que ele será usado com sabedoria, especialmente quando consideramos como está sendo usado atualmente”. E reforça que o “imenso desenvolvimento tecnológico não foi acompanhado por um desenvolvimento da responsabilidade, dos valores e da consciência humana”. Criticando as notícias falsas e o abuso de técnicas de marketing, o Santo Padre afirma que “a decadência ética do poder real é disfarçada graças ao marketing e às informações falsas, ferramentas úteis nas mãos daqueles com maiores recursos para empregá-las para moldar a opinião pública.” Entre as soluções, o Papa destaca o papel que vê nos mecanismos internacionais, que “devem ser dotados de autoridade real, de modo a proporcionar a consecução de certos objetivos essenciais”. E defende o multilateralismo, pois “as respostas aos problemas podem vir de qualquer país, por menor que seja”. Conferências climáticas O Papa Francisco também descreve as diversas conferências sobre o clima realizadas até agora. Começando pelo encontro de Paris, em novembro de 2016, que não estabeleceu sanções pelo incumprimento das obrigações e faltam instrumentos eficazes para fazer cumprir o acordo, bem como não existem sanções reais nem instrumentos eficazes para garantir o cumprimento. Sua Santidade também menciona a decepção com a COP de Madrid e recorda que a COP de Glasgow reavivou os objetivos de Paris, mas “as propostas tendentes a assegurar uma transição rápida e eficaz para formas de energia alternativas e menos poluentes não fizeram progressos”. Sobre a COP27, realizada no Egito em 2022, o Santo Padre destaca que foi “mais um exemplo da dificuldade das negociações”, e embora “marque um passo em frente na consolidação de um sistema de financiamento de ‘perdas e danos’ nos países mais afetados por desastres climáticos”, esta permaneceu “impreciso” (51) em muitos pontos. Olhando para a COP28, a ser realizada em Dubai no final deste ano de 2023, o Papa Francisco escreve que “dizer que não há nada a esperar seria suicídio, pois significaria expor toda a humanidade, especialmente os mais pobres, aos piores impactos das alterações climáticas”. O Sumo Pontífice pede pelo fim do “o escárnio irresponsável que apresentaria esta questão como algo puramente ecológico, ‘verde’, romântico, frequentemente sujeito ao ridículo por parte dos interesses econômicos”. Ao final do documento, o Papa recorda que as motivações para este compromisso decorrem da fé cristã, encorajando “os meus irmãos e irmãs de outras religiões a fazerem o mesmo”.

Papa Francisco responde às dubia de cinco cardeais

O Papa Francisco respondeu ontem às cinco dubia enviadas em julho passado pelos cardeais Walter Brandmüller e Raymond Leo Burke com o apoio de outros três cardeais, Juan Sandoval Íñiguez, Robert Sarah e Joseph Zen Ze-kiun. As perguntas dos cardeais e as respostas do Papa foram publicadas esta segunda-feira, 2 de outubro, no site do Dicastério para a Doutrina da Fé. Novamente, a resposta não consiste em afirmações de “sim” ou “não”. Abaixo, tradução da resposta. I. Dubium sobre a afirmação de que a Revelação Divina deve ser reinterpretada com base nas mudanças culturais e antropológicas em voga. a) A resposta depende do significado que vocês dão à palavra “reinterpretar”. Se for entendida como “interpretar melhor” a expressão é válida. Neste sentido, o Concílio Vaticano II afirmou que é necessário que com a tarefa dos exegetas – acrescento dos teólogos – “amadureça o juízo da Igreja” (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 12). b) Portanto, embora seja verdade que a Revelação divina é imutável e sempre vinculativa, a Igreja deve ser humilde e reconhecer que nunca esgota a sua riqueza insondável e precisa crescer na sua compreensão. c) Consequentemente, ela amadurece também na compreensão daquilo que ela mesma afirmou no seu Magistério. d) As mudanças culturais e os novos desafios da história não modificam a Revelação, mas podem estimular-nos a explicar melhor alguns aspectos da sua riqueza transbordante que sempre oferece mais. e) É inevitável que isto possa levar a uma melhor expressão de algumas declarações passadas do Magistério, e de fato tem acontecido assim ao longo da história. f) Por outro lado, é verdade que o Magistério não é superior à Palavra de Deus, mas também é verdade que tanto os textos das Escrituras como os testemunhos da Tradição necessitam de uma interpretação que permita distinguir a sua substância perene do condicionamento cultural. É evidente, por exemplo, em textos bíblicos (como Ex 21, 20-21) e em algumas intervenções magisteriais que toleraram a escravidão (Cf. Nicolau V, Bula Dum Diversas, 1452). Não é uma questão menor, dada a sua íntima ligação com a verdade perene da dignidade inalienável da pessoa humana. Esses textos precisam de uma interpretação. O mesmo se aplica a algumas considerações do Novo Testamento sobre as mulheres (1 Cor 11,3-10; 1 Tm 2,11-14) e a outros textos das Escrituras e testemunhos da Tradição que hoje não podem ser repetidos materialmente. g) É importante sublinhar que o que não pode mudar é o que foi revelado “para a salvação de todos” (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 7). Portanto, a Igreja deve discernir constantemente entre o que é essencial para a salvação e o que é secundário ou menos diretamente ligado a este objetivo. A este respeito, interessa-me recordar o que dizia São Tomás de Aquino: “quanto mais se desce ao particular, mais aumenta a indeterminação” (Suma Teológica 1-1 1, q. 94, art. 4). h) Finalmente, uma única formulação de uma verdade nunca poderá ser adequadamente compreendida se for apresentada sozinha, isolada do contexto rico e harmonioso de toda a Revelação. A “hierarquia da verdade” implica também colocar cada uma delas em conexão adequada com as verdades mais centrais e com a totalidade do ensinamento da Igreja. Isto pode finalmente dar origem a diferentes formas de expor a mesma doutrina, embora “aqueles que sonham com uma doutrina monolítica defendida por todos sem nuances, isso pode parecer uma dispersão imperfeita. Mas a realidade é que esta variedade ajuda a manifestar e desenvolver melhor os vários aspectos da riqueza inesgotável do Evangelho» (Evangelii gaudium, 49). Cada linha teológica tem os seus riscos, mas também as suas oportunidades. II. Dubium sobre a afirmação de que a prática generalizada de abençoar as uniões do mesmo sexo está de acordo com a Revelação e o Magistério (CIC 2357). a) A Igreja tem uma concepção muito clara do casamento: união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos. Somente essa união é chamada de “matrimônio”. Outras formas de união só o fazem “de forma parcial e análoga” (Amoris laetitia 292), razão pela qual não podem ser estritamente chamadas de “matrimônio”. b) Não se trata apenas de nomes, mas a realidade a que chamamos matrimônio tem uma constituição essencial única que exige um nome exclusivo, não aplicável a outras realidades. Sem dúvida é muito mais que um mero “ideal”. c) Por esta razão a Igreja evita qualquer tipo de rito ou sacramental que possa contradizer esta convicção e implicar que seja reconhecido como matrimônio algo que não o é. d) Contudo, no trato com as pessoas não devemos perder a caridade pastoral, que deve permear todas as nossas decisões e atitudes. A defesa da verdade objetiva não é a única expressão daquela caridade, que também é feita de bondade, paciência, compreensão, ternura e encorajamento. Consequentemente, não podemos tornar-nos juízes que apenas negam, rejeitam, excluem. e) Portanto, a prudência pastoral deve discernir adequadamente se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou várias pessoas, que não transmitam uma concepção errônea do matrimônio. Porque quando você pede uma bênção você está expressando um pedido de ajuda de Deus, uma oração para poder viver melhor, uma confiança em um Pai que pode nos ajudar a viver melhor. f) Por outro lado, embora existam situações que do ponto de vista objectivo não são moralmente aceitáveis, a mesma caridade pastoral exige que não tratemos simplesmente as outras pessoas como “pecadores” cuja culpa ou responsabilidade pode ser atenuada por vários factores que influenciam a imputabilidade subjetiva (Cf. São João Paulo II, Reconciliatio et Paenitentia, 17). g) As decisões que, em determinadas circunstâncias, podem fazer parte da prudência pastoral, não devem necessariamente tornar-se norma. Ou seja, não convém que uma Diocese, uma Conferência Episcopal ou qualquer outra estrutura eclesial possibilite constante e oficialmente procedimentos ou ritos para todo tipo de assuntos, pois tudo “que faz parte de um discernimento prático diante de um situação particular não pode ser elevada à categoria de norma”, porque isso “daria origem a uma

Cardeais enviam cinco Dubia ao Papa Francisco ante o Sínodo sobre a Sinodalidade

A dubia (plural latino de dubium) é um conjunto de perguntas ao Sumo Pontífice que expressam as preocupações dos cardeais assinantes. Eles podem esclarecimentos sobre pontos de doutrina de disciplina antes da abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade. As questões foram enviadas pelo Cardeal Walter Brandmüller, Cardeal Raymond Burke, Cardeal Zen Ze-Kiun, Cardeal Juan Sandoval Íñiguez e Cardeal Robert Sarah. O documento foi enviado em 21 de agosto solicitando clareza sobre tópicos relacionados ao desenvolvimento doutrinário, à bênção das uniões do mesmo sexo, à autoridade do Sínodo sobre a Sinodalidade, à ordenação de mulheres e à absolvição sacramental. Os prelados afirmam ter apresentado uma versão anterior das dubia em 10 de julho e recebeu uma resposta do Papa Francisco no dia seguinte. Porém, o Papa respondeu com respostas completas, e não na forma habitual de respostas “sim” e “não”, o que tornou necessário apresentar um pedido de esclarecimento revisto, o que foi feito no dia 21 de agosto. A reformulação foi para suscitarem respostas de “sim” ou “não”. Os cardeais recusaram a mostrar a resposta do papa de 11 de julho, pois afirmam que a resposta foi dirigida apenas a eles e, portanto, não se destinava ao público. Eles também afirmam ainda não terem recebido resposta às dubia reformuladas e enviadas ao papa em 21 de agosto. Em carta aos fiéis datada de hoje, os cardeais explicaram que decidiram submeter as dubia “em vista de várias declarações de prelados altamente colocados” feitas em relação ao próximo Sínodo que foram “abertamente contrárias à doutrina constante e disciplina da Igreja.” A prática e uso de dubia A prática de emitir dubia ganhou destaque durante o pontificado do Papa Francisco. Em 2016, os cardeais Burke e Brandmüller, com os falecidos cardeais Carlo Caffarra e Joachim Meisner, apresentaram cinco dubia ao Papa Francisco buscando esclarecimentos sobre a interpretação da exortação apostólica Amoris Laetitia, particularmente no que diz respeito à admissão de católicos divorciados e recasados aos sacramentos. Em 2021, a DDF emitiu uma responsa ad dubium dando um simples “não” a uma dúvida sobre se a Igreja tem “o poder de dar a bênção às uniões de pessoas do mesmo sexo”. Nesse mesmo ano, o Dicastério para o Culto Divino emitiu uma responsa ad dubia sobre várias questões relacionadas com a implementação dos Custódios Traditionis, o motu proprio do Papa Francisco que restringe a Missa Tradicional em Latim. Então, em janeiro deste ano, o Padre Jesuíta James Martin enviou diretamente ao Papa Francisco um conjunto de três dubia em busca de esclarecimentos sobre os comentários que o Santo Padre fez à Associated Press sobre a questão da homossexualidade. O Papa respondeu às perguntas com uma carta manuscrita dois dias depois. O conteúdo das dubia A primeiro questão diz respeito ao desenvolvimento da doutrina e à afirmação feita por alguns bispos de que a revelação divina “deve ser reinterpretada conforme as mudanças culturais do nosso tempo e conforme a nova visão antropológica que essas mudanças promovem; ou se a revelação divina é obrigatória para sempre, imutável e, portanto, não deve ser contradita”. Assim, os cardeais questionam: “É possível que a Igreja hoje ensine doutrinas contrárias àquelas que ela ensinou anteriormente em questões de fé e moral, seja pelo Papa ex cathedra, ou nas definições de um Concílio Ecumênico, ou no magistério ordinário universal dos bispos dispersos pelo mundo (cf. Lumen Gentium, 25)?” Na segundo pergunta, sobre a bênção das uniões do mesmo sexo, sublinharam o ensinamento da Igreja baseado na revelação divina e nas Escrituras de que “Deus criou o homem à sua imagem, homem e mulher, criou-os e abençoou-os, para serem frutíferos” (Gen. 1:27-28), e o ensinamento de São Paulo de que negar a diferença sexual é a consequência da negação do Criador (Rm 1:24-32). Eles então perguntam ao Papa duas coisas: primeiro, se, em “algumas circunstâncias”, um padre abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo é possível que: “O comportamento homossexual como tal não seria contrário à lei de Deus e à jornada da pessoa em direção a Deus?” Ligados a essa pergunta, os cardeais também questionaram se o ensinamento da Igreja continua a ser válido de que: “Todo ato sexual fora do casamento, e em particular os atos homossexuais, constitui um pecado objetivamente grave contra a lei de Deus, independentemente das circunstâncias em que ocorre e da intenção com que é realizado.” No terceiro questionamento, os cardeais falam sobre a sinodalidade, se ela pode ser o critério mais elevado de governo da Igreja sem comprometer “a sua ordem constitutiva desejada pelo seu Fundador”, dado que o Sínodo dos Bispos não representa o colégio dos bispos, mas é “apenas um órgão consultivo” do Papa. Assim, formularam a dubium: “O Sínodo dos Bispos, que se realizará em Roma, e que inclui apenas uma representação escolhida de pastores e fiéis, exercerá, nas questões doutrinais ou pastorais sobre as quais for chamado a exprimir-se, a autoridade suprema da Igreja, que pertence exclusivamente ao Romano Pontífice e, una cum capite suo, ao colégio dos bispos (cf. cân. 336 C.I.C.)?” Na quarta dúvida, os cardeais abordaram declarações de alguns prelados, novamente “nem corrigidas, nem retratadas”, que dizem que, como a “teologia da Igreja mudou”, as mulheres podem ser ordenadas sacerdotes. Eles, portanto, perguntaram ao Papa, considerando o ensinamento do Concílio Vaticano II e a carta apostólica de São João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis, se “Poderia a Igreja no futuro ter a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, contradizendo assim que a reserva exclusiva deste sacramento aos homens batizados pertence à própria substância do sacramento da ordem, que a Igreja não pode mudar?” A última questão diz respeito à insistência frequente do Santo Padre de existir o dever de absolver a todos e sempre, de modo que pareça que o arrependimento não seja uma condição necessária para a absolvição sacramental. Os cardeais perguntaram se a contrição do penitente continua a ser necessária para a validade da confissão sacramental e, portanto, se: “Pode um penitente que, embora admitindo um pecado e se recuse a ter, de qualquer