O que mudou entre o relatório preliminar e o relatório resumido do Sínodo da Sinodalidade

A assembleia do Sínodo da Sinodalidade aprovou o relatório resumido com 42 páginas na noite de sábado. E mudanças significativas ocorreram entre o rascunho inicial e o texto final, que servirá de base para a sessão do Sínodo de outubro de 2024. O relatório resumido final não incluiu o termo “LGBTQ+”, que estava presente no rascunho do documento entregue aos membros do Sínodo na quarta-feira, 25 de outubro. A expressão de constava tanto no instrumentum laboris do Sínodo como, de forma diferente, na versão inicial. Da mesma forma, uma proposta que parecia apelar a um Sínodo permanente em sessão que proporcionasse consultas ao Papa não foi incluída no relatório resumido final. Os trechos que sugerem a necessidade de reconsiderar até que ponto “a diferença sexual deve moldar a eclesiologia e as abordagens ao ministério” também foram removidos. Eles aparentavam propor mudar o entendimento da Igreja de que apenas os homens são elegíveis para serem ordenados às ordens sagradas e, portanto, exercerem certos ministérios de ensino, governação e santificação. No total, 1.251 emendas foram apresentadas ao texto pelos delegados do Sínodo, e uma equipe de redatores trabalhou para incorporá-las na versão final antes de ser entregue aos membros no sábado e votada mais tarde à noite. Cada parágrafo do relatório resumido final foi aceito pela assembleia com o mínimo de dois terços para aprovação. Elementos completamente ausentes do rascunho foram acrescentados. Um exemplo particularmente notável disto foi o acréscimo de uma proposta para colocar os homens que deixaram o sacerdócio num “serviço pastoral que melhore a sua formação e experiência”. A proposta prevê análise caso a caso. Também se acrescentou referências que sublinham a importância do ensino da Igreja. A palavra “magistério”, referindo-se ao ensinamento oficial da Igreja Católica, aparece 10 vezes na versão final, ao invés das quatro referências feitas no rascunho original. Para citar um exemplo, uma proposta de que um grupo de especialistas se envolvesse num “discernimento partilhado” foi ajustada para sublinhar que o discernimento deve ser conduzido “à luz da Palavra de Deus, do ensinamento da Igreja, das reflexões teológicas e valorizando a experiência sinodal”. O objetivo do grupo é discernir sobre “questões doutrinais, pastorais e éticas”, incluindo as relacionadas com o gênero, a sexualidade e o fim da vida. Rejeição da terminologia “LGBTQ+” O instrumentum laboris incluia frases como “católicos LGBTQ+” e “pessoas LGBTQ+”. Porém, o uso da expressão é contestado por muitos bispos e teólogos. O argumento é que ela enquadra de forma inútil as atrações sexuais e/ou sentido de gênero de um indivíduo como uma parte fundamental da sua identidade. Outros, no entanto, pressionaram para que os documentos da Igreja incluíssem a terminologia, popular no ocidente secular, mas com forte resistência em lugares como África e Europa Oriental. Após as discussões na assembleia, o rascunho inicial do relatório usava “pessoas que se identificam como LGBTQ+”, expressam considerada menos problemática, porque usa “LGBTQ+” como uma identificação subjetiva, não como um estado de ser. No entanto, quando o relatório resumido final foi divulgado, qualquer menção a “LGBTQ+” foi totalmente removida. No lugar, o documento falava de “pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja devido à sua situação conjugal, identidade e sexualidade”. O relatório resumido, no entanto, utilizou os termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” num determinado momento. A ausência da terminologia “LGBTQ” foi percebida como um grande golpe por alguns ativistas e figuras da mídia. O membro do Sínodo, padre jesuíta James Martin, um padre americano que usa regularmente o paradigma “LGBTQ+” em seu ativismo e ministério, expressou sua decepção. Um cenário semelhante ocorreu em 2018. Na ocasião, durante o Sínodo sobre os Jovens, o termo “LGBTQ” apareceu no instrumentum laboris, embora não tenha sido mencionado no relatório apresentado pelos jovens que participaram na reunião pré-sinodal. A inserção do termo foi saudada como um divisor de águas pela mídia e por ativistas, mas o documento final do Sínodo sobre os Jovens não incluiu nenhuma menção ao termo. O objetivo, de o termo “LGBTQ” aparecer no relatório final da assembleia sinodal, sinalizando que o uso do termo recebeu aprovação universal, consolidando-o mais firmemente no vocabulário da Igreja, foi frustrado mais uma vez. Não haverá ‘Super Sínodo’ O relatório resumido do Sínodo sobre a Sinodalidade sublinhou que os participantes experimentaram “alegria evangélica” ao participarem na assembleia – mas talvez não o suficiente para torná-la uma característica perpétua na Igreja. Assim, a proposta do rascunho “para estabelecer um sínodo permanente de Bispos eleitos pelas Conferências Episcopais para apoiar o ministério petrino” estava ausente do documento final. O Sínodo dos Bispos foi instituído pelo Papa São Paulo VI em 1965, sendo um órgão permanente e canonicamente reconhecido da Igreja. Ele realiza assembleias ordinárias, normalmente a cada três anos, e a maioria dos membros que participam nessas assembleias são eleitos pela respectiva conferência episcopal. A proposta, então, seria provavelmente de algo ainda mais e regular, como um órgão sinodal que estivesse permanentemente “em sessão”. O relatório resumido apresentou esta dinâmica principalmente como positiva, lançando aparentemente as bases para que se tornasse uma característica regular do que tinha sido conhecido como o Sínodo dos Bispos no futuro. A proposta de estabelecer um Sínodo dos Bispos em sessão permanente para aconselhar o Papa foi feita no contexto das mudanças na composição do Sínodo na assembleia deste mês de outubro. A mais notavelmente foi a inclusão de eleitores não-bispos. Foi com esse contexto que a foi lida como uma porta de entrada para a criação de uma espécie de “Super Sínodo”: um corpo de bispos, padres, religiosos e leigos e mulheres que fornece consultas contínuas ao Papa. Não chegando à versão final, em seu lugar estava uma menção ausente da versão preliminar sobre fazer do Conselho dos Cardeais, um grupo de nove prelados seniores que aconselham o Papa Francisco, um “concílio sinodal”. A frase é ambígua, mas dada a associação entre sinodalidade e um maior envolvimento de não-bispos, ela pode apontar para a participação de não-cardeais no “gabinete do Papa” de alguma forma. A mesma seção do relatório resumido também

“É precisamente o caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”

A Carta ao Povo de Deus da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foi publicada ontem, após a leitura do esboço na terça-feira. Abaixo, o texto na íntegra: Queridas irmãs e irmãos, ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVIa Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em profunda comunhão com todos vós. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e também os vossos receios. Já passaram dois anos desde que, a pedido do Papa Francisco, iniciamos um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para “caminhar juntos”, sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo. A sessão que nos reuniu em Roma desde 30 de setembro foi um passo importante neste processo. Em muitos aspectos, foi uma experiência sem precedentes. Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutamos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhamos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentamos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates. A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que, alguns de nós, provinham de países onde a guerra deflagra. Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos os que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz. A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecumênica de abertura, experimentamos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. “A cruz é, de facto, a única cátedra d’Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que ‘todos sejam um’ (Jo 17,21)”. Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiamos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: “Laudate Deum! “, recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos. Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: “Amor! “. Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia. É a “confiança” que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentamos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente. E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra “sínodo”. Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, “Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstratos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (…), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um” (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos. Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória. A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no

A Igreja está agora em uma “fase mais profunda” do Vaticano II

Afirmação foi do padre australiano Ormond Rush durante um discurso aos membros do Sínodo no início da sua última semana em Roma. Durante seu discurso no início desta última semana do Sínodo da Sinodalidade, ele instou os participantes a recorrerem aos argumentos do Vaticano II para os seus procedimentos. Ele também destacou que o evento “é um diálogo com Deus” e falou sobre “tradição” como entendida no Vaticano II a luz dos escritos de 1960 do então cardeal Joseph Ratzinger. O padre Rush, sacerdote da Diocese de Townsville, é conhecido pelos seus numerosos escritos que promovem o Concílio Vaticano II como um apelo à “renovação e reforma da Igreja Católica”. E defende uma maior implementação do seu novo estilo de envolvimento com a Igreja Católica, mundo e com os católicos. O sacerdote está estreitamente envolvido no Sínodo da Sinodalidade, servindo como parte da comissão teológica consultiva da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Ele é membro sem direito a voto do Sínodo, mas como um dos especialistas, tem a tarefa de compilar os vários relatórios de pequenos grupos no relatório oficial de síntese de toda a reunião. Citando direta e frequentemente os relatos do então padre Joseph Ratzinger sobre o Concílio Vaticano II, o padre australiano destacou como “podemos até falar do Concílio como um novo começo” em termos do afastamento de uma postura “antimodernista” sobre a qual Ratzinger escreveu. Anteriormente a sua viagem à Roma para o Sínodo, o padre Rush já argumentara que “o Papa Francisco, com a sua noção de ‘sinodalidade’, está simplesmente reunindo muitos elementos dessa visão do Concílio”. “Portanto, podemos dizer que estamos agora entrando numa fase mais profunda na recepção do Concílio Vaticano II”. Em citação aos escritos de Ratzinger de 1969, o sacerdote australiano argumentou que a Dei Verbum do Concílio Vaticano II apresenta “uma compreensão da revelação que é vista basicamente como diálogo”. “A leitura das Escrituras é descrita como um diálogo entre Deus e os seres humanos… O diálogo de Deus é sempre mantido no presente… com a intenção de nos forçar a responder”, disse Rush, citando Ratzinger. Assim, ele concluiu afirmando que “este Sínodo é um diálogo com Deus”. E, em sua opinião, “esse tem sido o privilégio e o desafio de suas ‘conversas no Espírito’. Deus está aguardando sua resposta.” Ratzinger, o progressista? Embora Rush tenha citado repetidamente Ratzinger no seu discurso, destaca-se que o padre australiano se inspirou fortemente nos escritos do falecido Papa Bento XIV logo após o Concílio Vaticano II. O historiador Roberto de Mattei, em sua extensa história do concílio, descreveu Ratzinger como um dos teólogos alemães que “se distinguiram” por estar “no ‘flanco em marcha’ do progressismo”. O jovem Ratzinger trabalhou em estreita colaboração com clérigos dissidentes como os Padres Karl Rahner, Bernard Häring e Yves Congar durante o concílio. Porém, o historiador acrescenta que, anos mais tarde, Ratzinger redescobriu o “papel da tradição e das instituições romanas”. O biógrafo de Ratzinger, Peter Seewald, argumentou que “é definitivamente assim que os seus impulsos contribuíram na época para o avanço do Modernismo na Igreja Católica”. No entanto, ele divergia na opinião de De Mattei, argumentando que Ratzinger não realizou uma “virada conservadora”. Para Seewald, “Ratzinger sempre foi um teólogo progressista”. E ele explica que “a noção de progressista estava [então] sendo entendida de forma diferente do que é hoje: como uma modernização da casa, não como a sua destruição”. Informações com o LifeSiteNews.

‘Repensar toda a Igreja’ conforme a sinodalidade

A próxima etapa do Sínodo do Vaticano sobre a Sinodalidade começou ontem, quarta-feira, com um apelo para que se concentre na descentralização, na corresponsabilidade dos leigos e em mudanças concretas na Igreja institucional. Antes das discussões de ontem, dia 18 de outubro, os delegados foram apresentados a uma visão abrangente da Igreja hierárquica em uma exposição teológica do Padre Dario Vitali. “Quando chegarmos ao consenso de que a Igreja é constitutivamente sinodal, teremos que repensar toda a Igreja, todas as instituições, toda a vida da Igreja num sentido sinodal”, disse o teólogo italiano. O Padre Timothy Radcliffe, OP, também falou sobre “novos processos, instituições e estruturas”, e o Cardeal Jean-Claude Hollerich perguntou que mudanças concretas a assembleia sinodal pode trazer para os católicos leigos. Introduzindo os delegados do Sínodo no próximo tópico para discussão, o cardeal Hollerich destacou que “A grande mídia avaliará o Sínodo com base em possíveis mudanças em um número muito limitado de assuntos”. Porém, conforme o cardeal, os fiéis nas paróquias e nos conselhos pastorais “estão se perguntando o que mudará para eles, como poderão experimentar concretamente em suas vidas aquele discipulado missionário e a corresponsabilidade sobre os quais refletimos em nosso trabalho.” O tema introduzido para discussão foi “Participação, governança e autoridade”, última parte do Instrumentum Laboris. Conforme a seção B3, uma das prioridades abordadas durante a fase continental do Sínodo foi “a questão da autoridade, o seu significado e o estilo do seu exercício numa Igreja sinodal”. E pergunta “Como podemos imbuir as nossas estruturas e instituições com o dinamismo da Igreja sinodal missionária?” Repensar as instituições eclesiais Durante a fala introdutória, o padre Vitali, que é coordenador de teólogos especialistas no Sínodo, disse à assembleia que “a possibilidade de desenvolver um estilo e uma forma sinodal de Igreja depende da circularidade virtuosa do ‘sensus fidei’, do magistério e da teologia”. E, segundo o sacerdote, “um verdadeiro exercício de sinodalidade nos permitirá pensar com paciência e prudência sobre as reformas institucionais necessárias e os processos de tomada de decisão que envolvem todos num exercício de autoridade verdadeiramente adequada ao crescimento do povo de Deus, um povo maduro e participante neste horizonte”. O padre Vitali abordou os temas da autoridade e da descentralização na Igreja à luz da sinodalidade dizendo que “o processo sinodal pode ser entendido como o exercício mais completo de sinodalidade na Igreja Católica”, a partir do qual “podemos começar a repensar as instituições eclesiais”. E acrescentou que, “em vez de listar reformas individuais, devem ser indicados critérios que possam inspirar uma reforma da própria Igreja num sentido sinodal”. Como já destacado em matérias anteriores, o documento final deste encontro deve preparar as discussões para as reuniões no próximo ano. O padre Vitali continuou destacando que a sinodalidade “não enfatiza unilateralmente o papel do povo de Deus ou dos pastores, mas de todos os sujeitos – o povo de Deus, o Colégio dos Bispos, o bispo de Roma – articulando unidade dinâmica, sinodalidade, colegialidade e primazia.” E questionou “de que instituições precisamos para expressar quem somos como homens e mulheres de paz numa era de violência, habitantes do continente digital?”. Informações com a CNA.

Quem escreverá o relatório resumido do Sínodo da Sinodalidade?

Além de omitir os nomes de quem está sentado em quais pequenos grupos, o Vaticano também se recusa a compartilhar com os jornalistas a lista completa daqueles que redigirão o relatório de síntese final que reunirá todas as contribuições dos pequenos grupos, grupos e as Congregações Gerais. O porta-voz principal do Sínodo, Paolo Ruffini, disse aos repórteres em 11 de outubro que os principais redatores, os dois secretários especiais do Sínodo, estão sendo assistidos por “especialistas” sinodais, mas acrescentou que “não faz sentido fornecer seus nomes”. Alguns participantes do Sínodo, bem como alguns membros do conselho ordinário – também não foram informados sobre quem exatamente está redigindo o documento. Ruffini disse aos repórteres que “basta saber” os nomes dos 13 membros da comissão do relatório de síntese, anunciada em 10 de outubro, cuja tarefa, segundo os estatutos do Sínodo, “não é escrever, mas supervisionar, alterar e aprovar periodicamente” o projeto de relatório com vista à sua apresentação à assembleia. “Toda a assembleia irá aprová-lo, não apenas aqueles que ajudarem a escrevê-lo”, destacou o porta-voz. O relatório resumido é um documento crucial, pois terá como objetivo incluir uma síntese de todas as discussões votadas nos pequenos grupos. Cada rodada de discussão será resumida e votada. O resultado das votações é discutido em congregações gerais envolvendo todos os participantes do Sínodo. Porém, a falta de tempo significa, em termos práticos, que poucos terão a oportunidade de partilhar os seus pontos de vista. Uma congregação geral no final da assembleia receberá o texto completo do relatório resumido e os participantes terão uma última oportunidade de incorporar quaisquer alterações antes do seu retorno à assembleia para uma votação final sobre o documento. Conforme as regras sinodais, o relatório sumário não é um “documento conclusivo”, mas “visa regular a próxima fase do processo sinodal, que conduzirá à sessão de outubro de 2024, do ponto de vista da metodologia, etapas e temas”. Os secretários especiais Já são conhecidos os dois “secretários especiais” encarregados de preparar o documento com a assistência de especialistas sinodais. Eles são o padre jesuíta Giacomo Costa, da Itália, que chefiou o “grupo de trabalho sintetizador” para a etapa continental do Sínodo no ano passado, e Mons. Riccardo Battocchio, reitor do Almo Collegio Capranica e presidente da Associação Teológica Italiana. Ambos os sacerdotes demonstraram interesse público pela questão da homossexualidade, que tem sido tema de debate durante este Sínodo. O Padre Costa apoiou a legislação italiana anti-homofobia em 2021, que foi contestada tanto pelos bispos italianos como pelo Vaticano e que acabou por não ser aprovada no Senado italiano. O Mons. Battocchio falou na apresentação de um livro chamado Amor Homossexual em 2015, que visava abrir a discussão sobre o tema após sua predominância no Sínodo Extraordinário sobre a Família de 2014. Mas tão cruciais quanto os secretários do Sínodo são especialistas que ajudarão a redigi-lo. Prováveis Especialistas O National Catholic Register apurou que dos especialistas, dois deverão ser autores principais: Anna Rowlands, professora de Pensamento e Prática Social Católica na Universidade de Durham, Inglaterra, e membro do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral; e o Padre Eamon Conway, sacerdote da Arquidiocese de Tuam, na Irlanda, e atualmente professor de Desenvolvimento Humano Integral e Teologia Sistemática na Universidade Notre Dame, na Austrália. Anna Rowlands apresentou uma reflexão teológica ao Sínodo em 9 de outubro sobre o tema “Comunhão: A Festa das Bodas do Cordeiro”, está passando dois anos trabalhando com a Secretaria Geral do Sínodo e com o Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. O seu papel incluiu trabalhar em estreita colaboração com a equipe que gere o processo sinodal global e, no ano passado, desempenhou um papel fundamental no trabalho com o Padre Costa na elaboração do relatório da fase continental, no qual sublinhou a importância de atribuir mais papéis de liderança na Igreja às mulheres. Ela argumenta essa demanda foi frequentemente sublinhada nos relatórios que receberam. A sua universidade afirma que o seu papel no Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral é “apoiar o principal trabalho de investigação do departamento da Santa Sé que trata de questões de política, economia, clima e migração”. Conforme apurado pelo National Catholic Register, Anna Rowlands é uma aliada próxima de Austen Ivereigh, um facilitador do Sínodo, com inclinações progressistas semelhantes às dele, frequentemente republicando suas postagens nas redes sociais com outras pessoas com perspectivas políticas e religiosas semelhantes. Em 16 de outubro, o Vaticano anunciou que Rowlands receberia o Prêmio Razão Expandida da Fundação Vaticano Joseph Ratzinger por um artigo que ela apresentou intitulado: “Rumo a uma Política de Comunhão, Ensino Social Católico em Tempos Obscuros”. O segundo provável autor principal, o Padre Conway, escreveu e editou vários livros e serviu em vários órgãos consultivos do governo irlandês, incluindo a Comissão da Sociedade da Informação e o Painel Consultivo do Gabinete Nacional Irlandês de Aprendizagem sobre o Desenvolvimento Econômico e Social. Em 2012, o Papa Bento XVI nomeou-o conselheiro especialista do Sínodo sobre a Nova Evangelização. Desde 2011, o Padre Conway é presidente da Fundação Peter Hünermann para o Avanço da Teologia Católica na Europa. Em 2014 foi nomeado para um painel de peritos da Agência da Santa Sé para a promoção da garantia de qualidade nas universidades pontifícias e faculdades eclesiásticas por um período de cinco anos, e em 2015 foi nomeado para o Comitê de Teologia da Conferência Episcopal Irlandesa. Os seus interesses de investigação incluem os trabalhos de Karl Rahner e Hans Urs von Balthasar; fé e cultura, especialmente a interface entre cultura, tecnologia e religião. Nos últimos anos, ele tem estado na vanguarda da pesquisa e da defesa do caráter distintivo da Educação Católica e é cofundador do projeto internacional Global Researchers Advancing Catholic Education (G.R.A.C.E.). Comissão de Síntese Redigido o documento, ele será repassado aos membros da comissão do relatório de síntese, que inclui o Cardeal Hollerich; Cardeal Mario Grech, secretário-geral da secretaria do Sínodo; o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, de Kinshasa, Congo; o cardeal Gerald LaCroix, de Quebec; Cardeal George

Papa Francisco sugere que o Sínodo da Sinodalidade é uma continuação do Vaticano II

“O progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”, declarou o pontífice argentino em uma entrevista realizada em setembro à Télam Digital, mas divulgada hoje, 17 de outubro. O Sumo Pontífice abordou uma série de temas, incluindo o Sínodo sobre a Sinodalidade e o seu desejo de alterar a Igreja. Com o tema do Sínodo questionado, a agência nacional de notícias da Argentina, Francisco destacou como se deve entendê-lo à luz do Concílio Vaticano II. “Desde o Concílio Vaticano II, João XXIII teve uma percepção muito clara: a Igreja tem que mudar”, afirmou o Papa. E continuou “Paulo VI concordou, tal como os papas seguintes.” O Papa Francisco argumentou que tal “mudança” não se trata apenas de “mudar caminhos, trata-se de uma mudança de crescimento, em favor da dignidade das pessoas”. “Essa é a progressão teológica, da teologia moral e de todas as ciências eclesiásticas, mesmo na interpretação das Escrituras que progrediram conforme os sentimentos da Igreja”, disse. E condenou qualquer mudança feita através da “ruptura”, dizendo que “ou progredimos através do desenvolvimento, ou as coisas não correm bem. A ruptura deixa você fora da seiva do desenvolvimento.” O Sumo Pontífice utilizou a imagem de uma árvore para falar sobre a Tradição. “Todos temos tradições, uma família, todos nascemos dentro da cultura de um país, de uma cultura política. Todos nós temos uma tradição pela qual assumir responsabilidades”, disse. Tais comentários do Papa, ligando o Sínodo sobre a Sinodalidade ao Vaticano II, são recorrentes. Ainda ontem, um membro do Sínodo e teólogo envolvido na organização do processo sinodal afirmou que o Sínodo era “uma continuação do Vaticano II; agora a teologia do Vaticano II, e não a eclesiologia, está sendo revivida”. O Diálogo com Todos Embora aplauda as “tradições”, o Papa não renunciou ao seu desejo de implementar mudanças na Igreja. Ele argumentou que “o progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”. Referindo-se à Encarnação de Deus como homem, o Sumo Pontífice destacou como “a humanidade é algo consagrado por Deus. Ou seja, tudo o que é humano deve ser assumido e o progresso deve ser humano, em harmonia com a humanidade”. E, citando a “rapidez” dos desenvolvimentos científicos, o Papa Francisco afirmou que “a Igreja deve prestar muita atenção e ter os seus pensadores prontos para o diálogo”. Ele se baseia em São Vicente de Lérins: “Um teólogo do século IV dizia que as mudanças na Igreja devem obedecer a três condições para serem reais: consolidar-se, crescer e enobrecer-se ao longo dos anos. É uma definição muito inspiradora de Vicente de Lérins”. O Papa argumentou que “a Igreja tem de mudar” e apontou para um processo de mudança em vigor desde o Vaticano II: “Pensemos na forma como mudou desde o Concílio até agora e na forma como deve continuar a mudar os seus caminhos, no sentido de propor uma verdade imutável. Ou seja, a revelação de Jesus Cristo não muda, os dogmas da Igreja não mudam, crescem e enobrecem-se como a seiva de uma árvore.” O Papa também repetiu os seus comentários sobre “retroceder”, dizendo que quem não “segue este caminho, segue um caminho que dá passos para trás, um caminho que se fecha sobre si”. Para o Sumo Pontífice “As mudanças na Igreja ocorrem dentro deste fluxo de identidade da Igreja. E tem de continuar a mudar ao longo do caminho, à medida que os desafios são enfrentados. É por isso que o núcleo da mudança é fundamentalmente pastoral, sem renunciar à essência da Igreja.”

Esta semana no Sínodo sobre Sinodalidade

Nesta semana, o Sínodo sobre a Sinodalidade no Vaticano terá outra à medida que a reunião muda do trabalho em pequenos grupos para uma assembleia plenária – uma das “Congregationes Generales” oficiais. Também haverá oportunidade de participação dos jornalistas. Ao final da discussão de cada seção do documento, o Cardeal Jean-Claude Hollerich enquanto relator-geral, fará uma declaração. O próximo relatório – chamado de “apresentação” na programação do Sínodo – está previsto para 13 de outubro e outro acontecerá em 18 de outubro. Agenda Oculta? Persistem preocupações sobre o potencial dos grupos de pressão influenciarem o decorrer do Sínodo. Na sexta-feira passada, o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, afirmou que ninguém traria agendas pessoais e muito menos tentaria impô-las aos outros. “Não há agenda; somos todos irmãos e irmãs”, reiterou o prelado africano. O cardeal congolês também disse que o resultado do processo seria “bem-vindo por todos como a vontade de Deus”. Menções à busca de comunhão no Sínodo não surpreendem. São um mantra comum em muitas conversas paralelas. Antes de 2014, o termo “consenso sinodal” estava na ordem do dia, com os documentos sujeitos a votação parágrafo por parágrafo. A ausência de uma maioria de dois terços dos votos levou à retenção da publicação de documentos, uma prática que visa promover a comunhão em vez da divisão. Numa tentativa de aparente transparência, o Papa Francisco divulgou anteriormente de forma consistente todas as formas de documentos finais e a contagem dos votos. Para este Sínodo, em vez de um documento final, será divulgado um documento resumido, cuja aprovação dependerá mais do relato geral da experiência do Sínodo do que de capítulos específicos. Em Outubro de 2024, a aprovação do texto final pela assembleia pode anular o documento de resumo. Agenda da Semana Há muita expectativa para a tarde desta segunda-feira, quando a comissão sinodal designada para redigir o documento resumido votará. Esse resultado – revelando os nomes dos membros da comissão – pode fornecer uma prévia da formulação do documento ou, pelo menos, sugerir o tom geral dos textos e, portanto, de todo o Sínodo. Conforme o calendário oficial, dois pontos-chave do Instrumentum Laboris, o documento de trabalho, estão programados para discussão esta semana: Seção B1: “Como podemos ser mais plenamente sinal e instrumento de união com Deus e unidade da raça humana?” Seção B2: “Corresponsáveis pela missão” com uma pergunta central: “Como partilhar tarefas e dons ao serviço do Evangelho?” Os pequenos grupos de trabalho – “circoli minori” – deverão apresentar as suas intervenções no dia 11 de outubro, seguidas da finalização e apresentação dos seus relatórios à Secretaria-Geral no dia 12 de outubro. O processo termina com uma tarde livre destinada a uma peregrinação, presumivelmente às catacumbas romanas. A partir de 13 de outubro, a seção B2 do Instrumentum Laboris será examinada. Duas tardes desta semana são reservadas para a “conversa do Espírito”, descrita como um momento de discernimento comum para o Sínodo. Descrito nas seções 37 a 39 do Instrumentum Laboris, este processo abrange três fases: deliberação profunda antes de falar na assembleia, um período de silêncio e oração para ressoar com os pedidos dos outros, e uma sessão para identificar questões-chave e forjar um consenso comum. As “conversas do espírito” visam elaborar um documento que incorpore o consenso e o espírito comunitário. Ainda não se sabe se esse objetivo será alcançado. O facto de o Cardeal Hollerich já ter sugerido um roteiro para o ano seguinte implica, por enquanto, um mergulho cauteloso nas águas. No próximo ano, estas “conversas” poderão concentrar-se em tópicos específicos com um enfoque mais nítido, embora isso continue a ser terreno especulativo. Reformas para além do Sínodo? No início do Sínodo, a ênfase na confidencialidade – expressa pelo Papa Francisco – mostrou preocupação com as agendas impulsionadas pelos meios de comunicação social. No entanto, há aparentes tentativas em curso esta semana por parte de certos grupos de interesse para impulsionar a sua respectiva agenda, na esperança de mudar a própria essência da Igreja Católica. Reformadores autonomeados lideram uma conferência chamada “Spirit Unbounded”, agendada para os dias 8 a 14 de outubro e online. Dois documentos enquadram este evento, o Texto de Bristol e uma proposta de constituição para a Igreja Católica. A leitura do Texto de Bristol revela uma agenda clara: o documento retrata a Igreja como uma entidade “secular”, clamando por “estruturas democráticas a todos os níveis”, defendendo que o direito canônico se alinhe com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e apelando a uma reformulação do ministério litúrgico. A proposta de uma constituição para a Igreja Católica ecoa um tom secular ao delinear uma constituição de autoria humana. No entanto, reafirma o Evangelho como referência primeira para todo cristão. A ideia de uma Igreja democratizada é comum ao Caminho Sinodal Alemão. Informações com a CNA.

Cardeal Zen expressa preocupação com o Sínodo sobre a Sinodalidade

Em carta vazada aos bispos poucos dias antes do Sínodo sobre a Sinodalidade iniciar sua primeira rodada de reuniões no Vaticano, o cardeal Joseph Zen expressa sérias preocupações aos cardeais e bispos de todo o mundo sobre a reunião em Roma, e defende mudanças no Sínodo. A carta data de 21 de setembro – festa do Apóstolo São Mateus – e acusa os organizadores do Sínodo de manipulação e de perseguir uma agenda em vez de permitir um discurso eclesiástico autêntico. O cardeal Zen examina o enquadramento teológico da sinodalidade recorrendo a um documento recente da Comissão Teológica Internacional, “Sinodalidade na vida e missão da Igreja”, sublinhando que a sinodalidade, na sua essência, refere-se à “comunhão e participação de todos os membros da Igreja na missão de evangelização”. Na carta, o cardeal expressa reservas sobre a escassa referência a este documento crítico aprovado pelo Vaticano nos materiais preparatórios para o Sínodo, o que sugere um potencial desvio dos princípios eclesiásticos fundamentais. Um deles é “o ministério colegial dos bispos”, que se baseia nos fundamentos teológicos do Concílio Vaticano II. “Fico confuso porque, por um lado, dizem que a sinodalidade é um elemento constitutivo da Igreja, mas, por outro lado, me dizem que é isso que Deus espera de nós para este século (como uma novidade?)”. O cardeal, que assinou os dubia antes do Sínodo questiona: “como pode Deus ter-se esquecido de fazer com que a sua Igreja viva este elemento constitutivo nos 20 séculos da sua existência?” Zen compartilha “confusão e preocupação ainda maiores” sobre “a sugestão feita de que finalmente chegou o dia de derrubar a pirâmide, isto é, com a hierarquia superada pelos leigos”. Em discurso em 2015, o Papa Francisco usou a imagem de uma pirâmide invertida descrevendo o papel do apóstolo Pedro como a “rocha” sobre a qual a Igreja está fundada. Nas palavras do Santo Padre: “nesta Igreja, como numa pirâmide invertida, o topo está localizado abaixo da base”. Com base nessa fala, o Padre Ormond Rush, participante do Sínodo sobre Sinodalidade, defendeu mudanças na eclesiologia e na organização da Igreja. O Caminho Sinodal Alemão No centro da crítica do cardeal Zen está o Caminho Sinodal Alemão, cujos participantes votaram a favor de documentos que apelam à ordenação sacerdotal de mulheres, bênçãos para pessoas do mesmo sexo e mudanças no ensinamento da Igreja sobre atos homossexuais, provocando acusações de heresia e receios de cisma. As preocupações foram levantadas publicamente pelo Papa Francisco, bem como pelos líderes da Igreja da Polônia, dos países nórdicos e de todo o mundo. Os organizadores alemães rejeitaram todas as intervenções, pressionando em vez disso a instalação de um Conselho Sinodal Alemão permanente para supervisionar a Igreja na Alemanha e implementar mudanças controversas. No entanto, o cardeal observa que o papa “nunca ordenou que este processo na Alemanha” tivesse de parar, e que o seu discurso aos bispos alemães durante a sua visita ad limina em 2022 – normalmente publicado no jornal do Vaticano L’Osservatore Romano – permaneceu secreto. Em março, os bispos alemães anunciaram que avançavam com os seus planos. Considerando o processo alemão, a carta do cardeal Zen alerta para tentativas de afastamento da ordem eclesiástica tradicional, sugerindo que qualquer aparente reorientação democrática está associada a propostas de mudanças revolucionárias na constituição da Igreja e nos ensinamentos morais sobre a sexualidade. Uma agenda e conclusões precipitadas? A carta também acusa o Secretariado do Sínodo – o escritório do Vaticano responsável pela organização do Sínodo sobre a Sinodalidade – de conduta questionável. “O Secretariado do Sínodo é muito eficiente na arte da manipulação”, escreve o cardeal. E acrescenta que: “muitas vezes afirmam não ter qualquer agenda. Isto é verdadeiramente uma ofensa à nossa inteligência. Qualquer um pode ver a que conclusões pretende chegar.” O cardeal Zen escreve que os organizadores, embora enfatizem a necessidade de “ouvir todos”, concentram-se num grupo em particular: “Aos poucos eles nos fazem compreender que entre estes ‘todos’ há especialmente aqueles que ‘excluímos’. Finalmente, entendemos que o que querem dizer são pessoas que optam por uma moral sexual diferente daquela da tradição católica”. Ele acusa os organizadores de tentarem evitar discussões honestas e espirituosas, afirmando que é mediante um diálogo tão aberto e robusto, como durante o Concílio Vaticano II, que o Espírito Santo verdadeiramente opera. “Parece-me que no Vaticano II, antes de chegar a uma conclusão quase unânime, dedicaram muito tempo a discussões animadas. Foi lá que o Espírito Santo trabalhou. Evitar discussões é evitar a verdade.” A carta apela aos bispos para que não se limitem a obedecer às diretivas processuais sem questionar, instando-os a acumular orações bem antes do Sínodo, emulando os preparativos espirituais de São João XXIII antes do Vaticano II. “Estou ciente de que no Sínodo sobre a Família o Santo Padre rejeitou sugestões apresentadas por vários cardeais e bispos precisamente em relação ao procedimento. Se, no entanto, apresentar respeitosamente uma petição apoiada por numerosos signatários, talvez esta seja aceite. De qualquer forma, você terá cumprido seu dever. Aceitar um procedimento irracional é condenar o Sínodo ao fracasso”. O cardeal de 91 anos encerra com outro apelo aos seus irmãos bispos e cardeais para orarem e uma petição para mudar os procedimentos sinodais. “Esta carta que estou escrevendo pretendo ser confidencial, mas não será fácil mantê-la fora do alcance dos meios de comunicação de massa. Velho como sou, não tenho nada a ganhar e nada a perder. Ficarei feliz por fazer o que considero ser meu dever fazer.” Informações com a CNA.

Vaticano publica lista com os participantes da próxima assembleia do Sínodo da Sinodalidade

O Vaticano divulgou os nomes dos participantes da próxima assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade em outubro, incluindo leigos que serão delegados votantes plenos em um sínodo da Igreja Católica pela primeira vez. Na lista, representantes selecionados pelas Conferências Episcopais e pelas Igrejas Orientais Católicas, líderes da Cúria Romana e 120 delegados selecionados pessoalmente pelo Papa Francisco. No total, 363 pessoas poderão votar na 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, segundo estatísticas divulgadas pela Sala de Imprensa da Santa Sé em 7 de julho. Entre elas, 54 dos delegados votantes são mulheres. Além dos membros votantes, outros 75 participantes foram convidados para a assembleia sinodal para atuar como facilitadores, especialistas ou assistentes espirituais. Entre os nomes escolhidos diretamente pelo Papa Francisco, está o padre jesuíta americano James Martin, um comentarista frequente das questões LGBTQ; o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Gerhard Ludwig Müller; o Cardeal Blase Cupich, de Chicago; o cardeal americano Wilton Gregory, de Washington, D.C.; o arcebispo Paul Etienne, de Seattle; o cardeal Sean O’Malley, de Boston; e o cardeal Robert McElroy, de San Diego. A lista completa de participantes pode ser lida aqui. Durante a assembleia de quase um mês, os delegados discutirão questões colocadas no recém-lançado Instrumentum laboris, que cobre tópicos polêmicos como mulheres diáconas, celibato sacerdotal, questões LGBTQ e destaca o desejo de novos órgãos institucionais para permitir uma maior participação na tomada de decisões pelo “Povo de Deus”. Em uma mudança em relação aos sínodos recentes, o Papa Francisco dividiu a assembleia-geral em duas sessões, a primeira a ser realizada em outubro de 2023 e a segunda em outubro de 2024. Segundo o cardeal Mario Grech, chefe do escritório sinodal do Vaticano, as conclusões serão alcançadas somente após a segunda sessão em 2024. Ao final da primeira sessão deste ano, a liderança sinodal proporá aos participantes algumas ideias sobre o que fazer entre as duas sessões. O Sínodo da Sinodalidade da Igreja Católica está em andamento desde outubro de 2021. Ao final do processo, em 2024, os participantes da assembleia sinodal votarão um documento final consultivo que será apresentado ao Papa, que poderá decidir, se quiser, por adotar o texto como um documento papal ou escrever o seu próprio na conclusão do sínodo.