Padre italiano excomungado após chamar Papa Francisco de ‘usurpador’

Um padre italiano foi excomungado pelo seu bispo local por dizer numa homilia que o Papa Francisco “não é o papa” e chamá-lo de “um usurpador”. A Diocese de Livorno, na Toscana, emitiu o decreto de excomunhão em 1º de janeiro notificando os católicos de que o Padre Ramon Guidetti “cometeu publicamente um ato cismático” durante a missa e incorreu na “excomunhão tardiae sententiae”, ou uma excomunhão automática. Dom Simone Giusti informou à sua diocese que os católicos não devem assistir a nenhuma missa oferecida pelo padre excomungado ou também “incorrerão na gravíssima pena de excomunhão”. O bispo citou o Cânon 751, que define o cisma como “a recusa da submissão ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos”. Em um vídeo enviado ao YouTube, o padre Guidetti chama o Papa Francisco de “usurpador” e “maçom” durante sua homilia proferida em 31 de dezembro de 2023, que marcou o aniversário de um ano do falecimento de Bento XVI. Durante a homilia, o padre ainda negou que o Papa Francisco foi o papa na última década. O padre Guidetti, de 48 anos, atuava desde 2017 como pároco da Igreja de San Ranieri, localizada fora da cidade costeira de Livorno, cerca de 240 quilômetros ao norte de Roma. Conforme um jornal local de Livorno, o bispo local se reuniu com o padre Guidetti antes do Natal para discutir a sua dissidência e procedeu ao decreto oficial de excomunhão após o ato público de cisma do padre em 31 de dezembro. Informações com a CNA.

Papa Francisco destitui o bispo americano Joseph Strickland

O Papa Francisco removeu o Bispo Joseph Strickland do seu papel de pastor e bispo da Diocese de Tyler, Texas. O anúncio foi feito através do boletim diário da Santa Sé, em 11 de novembro: O Santo Padre dispensou do governo pastoral da Diocese de Tyler (EUA) S.E. Mons. Joseph E. Strickland e nomeou o Bispo de Austin, S.E. Mons. Joe Vásquez, [bispo de Austin] como Administrador Apostólico da diocese desocupada. Anteriormente, em 9 de novembro, o Bispo Strickland foi formalmente convidado a renunciar pelo Papa Francisco, num pedido através do núncio papal, Cardeal Cristophe Pierre. Dom Strickland recusou este pedido e, agora por ordem direta do Papa, está desocupando a sua sede diocesana. Conforme o Cânone 416, uma sé diocesana é vaga quando o bispo renuncia, se transfere, morre ou tem uma “privação” que lhe é comunicada pelo Papa. E este só pode impor uma “privação” a um bispo cargo seguindo limites precisos e exigentes do Direito Canônico. Ao LifeSiteNews, o canonista Edward Peters destacou que todos os comentários sobre o Cânon 416 que ele examinou “consideram a ‘privação’ do cargo de um bispo como sendo possível apenas em face da culpa por crimes eclesiásticos (digamos, ações canonicamente ilegais em relação à propriedade eclesiástica, contra cc. 1377 ou 1389)”. A atitude do Papa Francisco vai contra um dos bispos mais diretos e vocais dos Estados Unidos, que obteve um apoio considerável, dentro e fora da sua diocese, para a sua promoção do ensino católico tradicional. Dom Strickland e sua diocese têm sido objeto de muito escrutínio entre a mídia católica desde que foi revelado que ele estava sujeito a uma visitação apostólica em junho de 2023. A visitação foi conduzida por dois bispos aposentados: Bispo Dennis Sullivan de Camden, Nova Jersey, e ex-bispo Gerald Kicanas de Tucson, Arizona. Havia muita preocupação quanto a Dom Kicanas, devido ao seu histórico problemático em matéria de aborto e homossexualidade. Em 2012, ele defendeu o financiamento de grupos pró-aborto pela Catholic Relief Services e, entre outras coisas, foi endossado por um grupo homossexual na probabilidade de se tornar presidente da conferência dos bispos dos EUA. Nenhum resultado oficial da visitação apostólica foi divulgado ao público. Em setembro deste ano, divulgou-se amplamente que o Papa Francisco planejava pedir a renúncia do Bispo Strickland. Muitos temiam que o bispo franco fosse iminentemente destituído do seu cargo. Entre os posicionamentos públicos de Dom Strickland sobre questões morais e doutrinárias, ele instou o Papa Francisco a negar a Sagrada Comunhão à ex-presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, em decorrência de ela apoiar o aborto. Além disso, ele também tem sido notavelmente franco em relação às controvérsias morais na política e na cultura dos EUA, incluindo a espionagem dos católicos pela administração Biden e as exibições públicas de grupos que se autodenominam “satânicos”. Neste verão, ele falou em um protesto contra o Los Angeles Dodgers hospedar uma trupe de drag queen anticatólica chamada “Irmãs da Indulgência Perpétua”, que se autodenominam freiras grotescas. Em 2022, o Papa Francisco removeu o Bispo Daniel Fernández Torres da Diocese de Arecibo, Porto Rico, devido ao seu apoio às objecções de consciência aos mandatos da vacina contra a COVID. Simultaneamente, o Papa Francisco não disciplinou numerosos bispos que contradisseram publicamente a doutrina católica sobre a atividade homossexual, a identidade de gênero, as “bênçãos” do mesmo sexo, a ordenação de mulheres e a recepção da Eucaristia.

Papa Francisco reforma estatutos da Pontifícia Academia de Teologia

O Papa Francisco publicou hoje Carta Apostólica em forma de motu proprio Ad theologiam promovendam, através do qual reforma os estatutos da Pontifícia Academia de Teologia, pertencente ao Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé. No documento, o Papa Francisco recorda que a Pontifícia Academia de Teologia encarna constantemente “a exigência de colocar a teologia ao serviço da Igreja e do mundo”, modificando a sua estrutura e ampliando os seus objetivos quando necessário. Conforme o Santo Padre, a prática da teologia no futuro “não pode limitar-se a repropor abstratamente fórmulas e esquemas do passado”, mas é chamada a interpretar profeticamente o presente e a “discernir novos caminhos para o futuro”. “Depois de quase cinco décadas, chegou o momento de rever estas normas, para torná-las mais adequadas à missão imposta pelo nosso tempo à teologia. Uma Igreja sinodal, missionária e em saída só pode corresponder a uma teologia em saída», escreveu o Sucessor de Pedro. Neste sentido, o Sumo Pontífice sublinha que a reflexão teológica é chamada a uma mudança de rumo e de paradigma, a uma “brava revolução cultural”, que a compromete a ser uma ciência que sabe “ler e interpretar o Evangelho” conforme o contexto e as diferentes realidades que os homens vivem atualmente. Para o Papa Francisco, a teologia desempenha um papel predominante na promoção de diálogos entre diversas culturas e religiões, sendo sua tarefa “a marca trinitária que faz do cosmos em que vivemos ‘uma rede de relações’ na qual ‘é característico de todo ser vivo tender para outra coisa’”. O Santo Padre também convida a um diálogo “dentro da comunidade eclesial”, a fim de promover a sinodalidade, que compromete “os teólogos a fazer teologia de forma sinodal, promovendo entre eles a capacidade de escuta, de diálogo, discernir e integrar a multiplicidade e variedade de instâncias e contribuições”.

O que mudou entre o relatório preliminar e o relatório resumido do Sínodo da Sinodalidade

A assembleia do Sínodo da Sinodalidade aprovou o relatório resumido com 42 páginas na noite de sábado. E mudanças significativas ocorreram entre o rascunho inicial e o texto final, que servirá de base para a sessão do Sínodo de outubro de 2024. O relatório resumido final não incluiu o termo “LGBTQ+”, que estava presente no rascunho do documento entregue aos membros do Sínodo na quarta-feira, 25 de outubro. A expressão de constava tanto no instrumentum laboris do Sínodo como, de forma diferente, na versão inicial. Da mesma forma, uma proposta que parecia apelar a um Sínodo permanente em sessão que proporcionasse consultas ao Papa não foi incluída no relatório resumido final. Os trechos que sugerem a necessidade de reconsiderar até que ponto “a diferença sexual deve moldar a eclesiologia e as abordagens ao ministério” também foram removidos. Eles aparentavam propor mudar o entendimento da Igreja de que apenas os homens são elegíveis para serem ordenados às ordens sagradas e, portanto, exercerem certos ministérios de ensino, governação e santificação. No total, 1.251 emendas foram apresentadas ao texto pelos delegados do Sínodo, e uma equipe de redatores trabalhou para incorporá-las na versão final antes de ser entregue aos membros no sábado e votada mais tarde à noite. Cada parágrafo do relatório resumido final foi aceito pela assembleia com o mínimo de dois terços para aprovação. Elementos completamente ausentes do rascunho foram acrescentados. Um exemplo particularmente notável disto foi o acréscimo de uma proposta para colocar os homens que deixaram o sacerdócio num “serviço pastoral que melhore a sua formação e experiência”. A proposta prevê análise caso a caso. Também se acrescentou referências que sublinham a importância do ensino da Igreja. A palavra “magistério”, referindo-se ao ensinamento oficial da Igreja Católica, aparece 10 vezes na versão final, ao invés das quatro referências feitas no rascunho original. Para citar um exemplo, uma proposta de que um grupo de especialistas se envolvesse num “discernimento partilhado” foi ajustada para sublinhar que o discernimento deve ser conduzido “à luz da Palavra de Deus, do ensinamento da Igreja, das reflexões teológicas e valorizando a experiência sinodal”. O objetivo do grupo é discernir sobre “questões doutrinais, pastorais e éticas”, incluindo as relacionadas com o gênero, a sexualidade e o fim da vida. Rejeição da terminologia “LGBTQ+” O instrumentum laboris incluia frases como “católicos LGBTQ+” e “pessoas LGBTQ+”. Porém, o uso da expressão é contestado por muitos bispos e teólogos. O argumento é que ela enquadra de forma inútil as atrações sexuais e/ou sentido de gênero de um indivíduo como uma parte fundamental da sua identidade. Outros, no entanto, pressionaram para que os documentos da Igreja incluíssem a terminologia, popular no ocidente secular, mas com forte resistência em lugares como África e Europa Oriental. Após as discussões na assembleia, o rascunho inicial do relatório usava “pessoas que se identificam como LGBTQ+”, expressam considerada menos problemática, porque usa “LGBTQ+” como uma identificação subjetiva, não como um estado de ser. No entanto, quando o relatório resumido final foi divulgado, qualquer menção a “LGBTQ+” foi totalmente removida. No lugar, o documento falava de “pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja devido à sua situação conjugal, identidade e sexualidade”. O relatório resumido, no entanto, utilizou os termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” num determinado momento. A ausência da terminologia “LGBTQ” foi percebida como um grande golpe por alguns ativistas e figuras da mídia. O membro do Sínodo, padre jesuíta James Martin, um padre americano que usa regularmente o paradigma “LGBTQ+” em seu ativismo e ministério, expressou sua decepção. Um cenário semelhante ocorreu em 2018. Na ocasião, durante o Sínodo sobre os Jovens, o termo “LGBTQ” apareceu no instrumentum laboris, embora não tenha sido mencionado no relatório apresentado pelos jovens que participaram na reunião pré-sinodal. A inserção do termo foi saudada como um divisor de águas pela mídia e por ativistas, mas o documento final do Sínodo sobre os Jovens não incluiu nenhuma menção ao termo. O objetivo, de o termo “LGBTQ” aparecer no relatório final da assembleia sinodal, sinalizando que o uso do termo recebeu aprovação universal, consolidando-o mais firmemente no vocabulário da Igreja, foi frustrado mais uma vez. Não haverá ‘Super Sínodo’ O relatório resumido do Sínodo sobre a Sinodalidade sublinhou que os participantes experimentaram “alegria evangélica” ao participarem na assembleia – mas talvez não o suficiente para torná-la uma característica perpétua na Igreja. Assim, a proposta do rascunho “para estabelecer um sínodo permanente de Bispos eleitos pelas Conferências Episcopais para apoiar o ministério petrino” estava ausente do documento final. O Sínodo dos Bispos foi instituído pelo Papa São Paulo VI em 1965, sendo um órgão permanente e canonicamente reconhecido da Igreja. Ele realiza assembleias ordinárias, normalmente a cada três anos, e a maioria dos membros que participam nessas assembleias são eleitos pela respectiva conferência episcopal. A proposta, então, seria provavelmente de algo ainda mais e regular, como um órgão sinodal que estivesse permanentemente “em sessão”. O relatório resumido apresentou esta dinâmica principalmente como positiva, lançando aparentemente as bases para que se tornasse uma característica regular do que tinha sido conhecido como o Sínodo dos Bispos no futuro. A proposta de estabelecer um Sínodo dos Bispos em sessão permanente para aconselhar o Papa foi feita no contexto das mudanças na composição do Sínodo na assembleia deste mês de outubro. A mais notavelmente foi a inclusão de eleitores não-bispos. Foi com esse contexto que a foi lida como uma porta de entrada para a criação de uma espécie de “Super Sínodo”: um corpo de bispos, padres, religiosos e leigos e mulheres que fornece consultas contínuas ao Papa. Não chegando à versão final, em seu lugar estava uma menção ausente da versão preliminar sobre fazer do Conselho dos Cardeais, um grupo de nove prelados seniores que aconselham o Papa Francisco, um “concílio sinodal”. A frase é ambígua, mas dada a associação entre sinodalidade e um maior envolvimento de não-bispos, ela pode apontar para a participação de não-cardeais no “gabinete do Papa” de alguma forma. A mesma seção do relatório resumido também

‘As ordens sagradas são reservadas aos homens’, Papa Francisco

Numa entrevista para um livro lançado terça-feira na Itália, o Papa Francisco reafirmou a impossibilidade de as mulheres se tornarem sacerdotes, ou mesmo diáconas da Igreja. A questão de saber se algumas mulheres na Igreja primitiva eram “diaconisas” ou outro tipo de colaboradoras dos bispos “não é irrelevante, porque as ordens sagradas são reservadas aos homens”, disse o papa. As respostas do papa às perguntas sobre o papel das mulheres na Igreja foram incluídas num livro publicado em junho em espanhol como “El Pastor: Desafíos, razones y reflexiones sobre su pontificado”. O dia 24 de outubro marcou o lançamento do livro em italiano. Sobre a possibilidade de mulheres diáconas, Francisco destacou que o diaconado “é o primeiro grau das ordens sagradas na Igreja Católica, seguido pelo sacerdócio e, finalmente, pelo episcopado”. O pontífice relatou que formou comissões em 2016 e 2020 para estudar mais a questão, depois de um estudo realizado na década de 1980 pela Comissão Teológica Internacional ter estabelecido que o papel das diaconisas na Igreja primitiva “era comparável às bênçãos das abadessas”. Em resposta a uma pergunta sobre por que ele é “contra o sacerdócio feminino”, o Papa Francisco afirmou ao jornalista argentino Sergio Rubin e à jornalista italiana Francesca Ambrogetti, autores do livro, que se trata de “um problema teológico”. “Acho que minaríamos a essência da Igreja se considerássemos apenas o ministério sacerdotal, ou seja, a via ministerial”, disse ele, salientando que as mulheres espelham a noiva de Jesus, a Igreja. “O facto da mulher não ter acesso à vida ministerial não é uma privação, porque o seu lugar é muito mais importante”, destacou o Pontífice. “Acho que erramos na nossa catequese ao explicar estas coisas e, em última análise, recorremos a um critério administrativo que não funciona a longo prazo”. Questionado sobre a ordenação de mulheres que aproxima “mais pessoas da Igreja” e sobre o celibato sacerdotal opcional que ajuda na escassez de padres, o Papa Francisco disse que não partilha destas opiniões. O Papa Francisco respondeu que “os luteranos ordenam mulheres, mas ainda poucas pessoas vão à igreja”. “Seus padres podem se casar, mas apesar disso não conseguem aumentar o número de ministros. O problema é cultural. Não devemos ser ingênuos e pensar que as mudanças programáticas nos trarão a solução.” “Meras reformas eclesiásticas não servem para resolver questões subjacentes. Em vez disso, são necessárias mudanças paradigmáticas”, acrescentou, apontando para a sua carta de 2019 aos católicos alemães para mais considerações sobre a questão. Informações com a CNA.

“É precisamente o caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”

A Carta ao Povo de Deus da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foi publicada ontem, após a leitura do esboço na terça-feira. Abaixo, o texto na íntegra: Queridas irmãs e irmãos, ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVIa Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em profunda comunhão com todos vós. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e também os vossos receios. Já passaram dois anos desde que, a pedido do Papa Francisco, iniciamos um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para “caminhar juntos”, sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo. A sessão que nos reuniu em Roma desde 30 de setembro foi um passo importante neste processo. Em muitos aspectos, foi uma experiência sem precedentes. Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutamos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhamos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentamos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates. A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que, alguns de nós, provinham de países onde a guerra deflagra. Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos os que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz. A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecumênica de abertura, experimentamos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. “A cruz é, de facto, a única cátedra d’Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que ‘todos sejam um’ (Jo 17,21)”. Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiamos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: “Laudate Deum! “, recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos. Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: “Amor! “. Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia. É a “confiança” que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentamos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente. E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra “sínodo”. Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, “Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstratos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (…), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um” (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos. Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória. A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no

Papa Francisco sugere que o Sínodo da Sinodalidade é uma continuação do Vaticano II

“O progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”, declarou o pontífice argentino em uma entrevista realizada em setembro à Télam Digital, mas divulgada hoje, 17 de outubro. O Sumo Pontífice abordou uma série de temas, incluindo o Sínodo sobre a Sinodalidade e o seu desejo de alterar a Igreja. Com o tema do Sínodo questionado, a agência nacional de notícias da Argentina, Francisco destacou como se deve entendê-lo à luz do Concílio Vaticano II. “Desde o Concílio Vaticano II, João XXIII teve uma percepção muito clara: a Igreja tem que mudar”, afirmou o Papa. E continuou “Paulo VI concordou, tal como os papas seguintes.” O Papa Francisco argumentou que tal “mudança” não se trata apenas de “mudar caminhos, trata-se de uma mudança de crescimento, em favor da dignidade das pessoas”. “Essa é a progressão teológica, da teologia moral e de todas as ciências eclesiásticas, mesmo na interpretação das Escrituras que progrediram conforme os sentimentos da Igreja”, disse. E condenou qualquer mudança feita através da “ruptura”, dizendo que “ou progredimos através do desenvolvimento, ou as coisas não correm bem. A ruptura deixa você fora da seiva do desenvolvimento.” O Sumo Pontífice utilizou a imagem de uma árvore para falar sobre a Tradição. “Todos temos tradições, uma família, todos nascemos dentro da cultura de um país, de uma cultura política. Todos nós temos uma tradição pela qual assumir responsabilidades”, disse. Tais comentários do Papa, ligando o Sínodo sobre a Sinodalidade ao Vaticano II, são recorrentes. Ainda ontem, um membro do Sínodo e teólogo envolvido na organização do processo sinodal afirmou que o Sínodo era “uma continuação do Vaticano II; agora a teologia do Vaticano II, e não a eclesiologia, está sendo revivida”. O Diálogo com Todos Embora aplauda as “tradições”, o Papa não renunciou ao seu desejo de implementar mudanças na Igreja. Ele argumentou que “o progresso é necessário e a Igreja deve incorporar estas novidades com uma conversa séria do ponto de vista humano”. Referindo-se à Encarnação de Deus como homem, o Sumo Pontífice destacou como “a humanidade é algo consagrado por Deus. Ou seja, tudo o que é humano deve ser assumido e o progresso deve ser humano, em harmonia com a humanidade”. E, citando a “rapidez” dos desenvolvimentos científicos, o Papa Francisco afirmou que “a Igreja deve prestar muita atenção e ter os seus pensadores prontos para o diálogo”. Ele se baseia em São Vicente de Lérins: “Um teólogo do século IV dizia que as mudanças na Igreja devem obedecer a três condições para serem reais: consolidar-se, crescer e enobrecer-se ao longo dos anos. É uma definição muito inspiradora de Vicente de Lérins”. O Papa argumentou que “a Igreja tem de mudar” e apontou para um processo de mudança em vigor desde o Vaticano II: “Pensemos na forma como mudou desde o Concílio até agora e na forma como deve continuar a mudar os seus caminhos, no sentido de propor uma verdade imutável. Ou seja, a revelação de Jesus Cristo não muda, os dogmas da Igreja não mudam, crescem e enobrecem-se como a seiva de uma árvore.” O Papa também repetiu os seus comentários sobre “retroceder”, dizendo que quem não “segue este caminho, segue um caminho que dá passos para trás, um caminho que se fecha sobre si”. Para o Sumo Pontífice “As mudanças na Igreja ocorrem dentro deste fluxo de identidade da Igreja. E tem de continuar a mudar ao longo do caminho, à medida que os desafios são enfrentados. É por isso que o núcleo da mudança é fundamentalmente pastoral, sem renunciar à essência da Igreja.”

Resposta do Papa sobre a bênção das uniões homossexuais é “pastoralmente insustentável”

Em declaração no dia 12 de outubro publicada no seu site, o cardeal Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong e assinante dos dubias enviadas ao Papa em 11 de julho, disse que as respostas do Papa, enviadas um dia depois e que o Vaticano fez públicas no dia 2 de outubro, “não foram respostas precisas e não sanaram as dúvidas”. Como resultado, o Cardeal Zen emitiu seu próprio comunicado “para que os fiéis entendam por que nós cinco não as consideramos adequadas como respostas”. O cardeal começa refutando a tese do cardeal Víctor Manuel Fernánez, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, sobre a condição de cismático de quem levanta dúvidas a um Papa: Nenhum católico maduro acreditará que “quem contradiz o Santo Padre é um herege e cismático”, como afirmou Sua Eminência Víctor Manuel Fernández. Na verdade, o nosso Santo Padre é maravilhosamente humilde ao reconhecer os erros, os seus e os dos que o precederam na Igreja (por exemplo, viajou para o Canadá e passou seis dias dizendo “mea culpa” pelas alegadas crueldades cometidas muitos anos atrás contra jovens aborígenes em internatos). No presente caso, tenho fundadas dúvidas de que estas respostas não provenham da pena do Sumo Pontífice, pois desta vez posso citar a meu favor o que disse o Eminente Fernández sobre um documento assinado com autoridade do Papa: “Não consigo sentir o cheiro do Papa nele”. Na verdade, a incrível rapidez das respostas (11 de julho), especialmente em contraste com o caso dos outros famosos cinco Dubia de 2016 que foram simplesmente ignorados, faz suspeitar que estas respostas fazem parte do arsenal de respostas que os organizadores do Sínodo, provavelmente com a ajuda do “Eminente”, já se tinha preparado para responder aos perturbadores da sua agenda. No seu texto, o cardeal aborda as respostas aos cinco dubias. Quanto ao primeiro, recorde-se que a tese sobre o desenvolvimento do dogma de São John Henry Newman exige que seja homogêneo e desmonta os exemplos fornecidos na resposta pontifícia, como a posição da Igreja sobre a escravatura. Na resposta do Papa ao segundo dubium, que questionava se as bênçãos das uniões do mesmo sexo poderiam ser permitidas “sem trair a doutrina revelada”, Sua Santidade afirma que “o direito canônico não deve e não pode abranger tudo” e que um “discernimento prático” seria necessário em “circunstâncias particulares”. Tal resposta, segundo o cardeal Zen, era “pastoralmente insustentável”, acrescentando: “Como pode a Igreja, num assunto tão importante, deixar as pessoas sem uma regra clara e confiar no discernimento individual? Não será assim que surgirá um caos de casuística muito perigoso para as almas?” “Igualmente difícil”, escreveu o bispo emérito de Hong Kong, foi o parágrafo que “permite certas formas de bênção das uniões homossexuais”, ao qual perguntou: “tal união não implica atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo, o que é claramente pecaminoso? Assim como qualquer atividade sexual fora do casamento legítimo é pecaminosa?” Quanto à resposta ao terceiro dubium, o cardeal chinês sublinha que é necessário clarificar o conceito de sinodalidade para que a constituição hierárquica da Igreja não seja encerrada. Sobre o quarto dubium, o bispo emérito de Hong Kong recorda que o Concílio Vaticano II ensina que a diferença entre o sacerdócio comum de todos os fiéis e o de quem recebe o sacramento da ordem é não só de grau, mas de essência, algo que não fica claro na resposta de Francisco. Finalmente, o cardeal lamenta que, na resposta ao quinto dubium, sugira-se que tentar fazer cumprir as normas para que o sacramento da confissão seja validamente celebrado é transformar a Igreja numa alfândega. Os cinco cardeais que apresentaram os dubia ao Papa explicaram publicamente que as respostas recebidas eram pouco claras e imprecisas, por isso apresentaram novos dubia reformulados no dia 21 de agosto visando obter respostas claras de “Sim” e “Não”. Até agora, o Papa não respondeu. O cardeal Zen disse que devido à “pressão do tempo”, não consultou os outros quatro cardeais sobre a sua declaração de 12 de outubro, acrescentando que é, portanto, “pessoalmente responsável por esta iniciativa”. Informações com o InfoCatólica.

Papa Francisco publica nova Exortação Apostólica sobre mudanças climáticas

Em continuidade com a sua encíclica Laudato si, de 2015, o Papa Francisco publicou hoje a Exortação Apostólica Laudate Deum, sobre as mudanças climáticas. O documento é dividido em seis capítulos e 73 parágrafos, nos quais o Sumo Pontífice tenta esclarecer e completar seu texto anterior sobre ecologia integral. A data de hoje foi escolhida para a publicação por ser a festa de São Francisco de Assis. O documento também antecipa a COP28, que se realizará em Dubai entre o final de novembro e o início de dezembro. O Papel do Ser Humano No texto, o Papa afirma a impossibilidade de negar as alterações climáticas. “Os últimos anos temos assistido a fenômenos meteorológicos extremos, frequentes períodos de calor anormal, secas e outros gritos de protesto por parte da terra”, destaca o Pontífice. E reforça que “é verificável que mudanças climáticas específicas provocadas pela humanidade estão a aumentar notavelmente a probabilidade de fenômenos extremos que são cada vez mais frequentes e intensos”. O Santo Padre também critica os que culpam os pobres pelas mudanças climáticas, contrapondo que “uma percentagem baixa e mais rica do planeta contamina mais do que os 50% mais pobres da população mundial total, e que as emissões per capita dos países mais ricos são muito maiores do que as dos mais pobres.” Falando sobre o paradigma tecnocrático, que consiste em pensar que “a realidade, o bem e a verdade fluem automaticamente do poder tecnológico e econômico enquanto tal”, o Papa Francisco destaca que “nada garante que ele será usado com sabedoria, especialmente quando consideramos como está sendo usado atualmente”. E reforça que o “imenso desenvolvimento tecnológico não foi acompanhado por um desenvolvimento da responsabilidade, dos valores e da consciência humana”. Criticando as notícias falsas e o abuso de técnicas de marketing, o Santo Padre afirma que “a decadência ética do poder real é disfarçada graças ao marketing e às informações falsas, ferramentas úteis nas mãos daqueles com maiores recursos para empregá-las para moldar a opinião pública.” Entre as soluções, o Papa destaca o papel que vê nos mecanismos internacionais, que “devem ser dotados de autoridade real, de modo a proporcionar a consecução de certos objetivos essenciais”. E defende o multilateralismo, pois “as respostas aos problemas podem vir de qualquer país, por menor que seja”. Conferências climáticas O Papa Francisco também descreve as diversas conferências sobre o clima realizadas até agora. Começando pelo encontro de Paris, em novembro de 2016, que não estabeleceu sanções pelo incumprimento das obrigações e faltam instrumentos eficazes para fazer cumprir o acordo, bem como não existem sanções reais nem instrumentos eficazes para garantir o cumprimento. Sua Santidade também menciona a decepção com a COP de Madrid e recorda que a COP de Glasgow reavivou os objetivos de Paris, mas “as propostas tendentes a assegurar uma transição rápida e eficaz para formas de energia alternativas e menos poluentes não fizeram progressos”. Sobre a COP27, realizada no Egito em 2022, o Santo Padre destaca que foi “mais um exemplo da dificuldade das negociações”, e embora “marque um passo em frente na consolidação de um sistema de financiamento de ‘perdas e danos’ nos países mais afetados por desastres climáticos”, esta permaneceu “impreciso” (51) em muitos pontos. Olhando para a COP28, a ser realizada em Dubai no final deste ano de 2023, o Papa Francisco escreve que “dizer que não há nada a esperar seria suicídio, pois significaria expor toda a humanidade, especialmente os mais pobres, aos piores impactos das alterações climáticas”. O Sumo Pontífice pede pelo fim do “o escárnio irresponsável que apresentaria esta questão como algo puramente ecológico, ‘verde’, romântico, frequentemente sujeito ao ridículo por parte dos interesses econômicos”. Ao final do documento, o Papa recorda que as motivações para este compromisso decorrem da fé cristã, encorajando “os meus irmãos e irmãs de outras religiões a fazerem o mesmo”.

Papa Francisco responde às dubia de cinco cardeais

O Papa Francisco respondeu ontem às cinco dubia enviadas em julho passado pelos cardeais Walter Brandmüller e Raymond Leo Burke com o apoio de outros três cardeais, Juan Sandoval Íñiguez, Robert Sarah e Joseph Zen Ze-kiun. As perguntas dos cardeais e as respostas do Papa foram publicadas esta segunda-feira, 2 de outubro, no site do Dicastério para a Doutrina da Fé. Novamente, a resposta não consiste em afirmações de “sim” ou “não”. Abaixo, tradução da resposta. I. Dubium sobre a afirmação de que a Revelação Divina deve ser reinterpretada com base nas mudanças culturais e antropológicas em voga. a) A resposta depende do significado que vocês dão à palavra “reinterpretar”. Se for entendida como “interpretar melhor” a expressão é válida. Neste sentido, o Concílio Vaticano II afirmou que é necessário que com a tarefa dos exegetas – acrescento dos teólogos – “amadureça o juízo da Igreja” (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 12). b) Portanto, embora seja verdade que a Revelação divina é imutável e sempre vinculativa, a Igreja deve ser humilde e reconhecer que nunca esgota a sua riqueza insondável e precisa crescer na sua compreensão. c) Consequentemente, ela amadurece também na compreensão daquilo que ela mesma afirmou no seu Magistério. d) As mudanças culturais e os novos desafios da história não modificam a Revelação, mas podem estimular-nos a explicar melhor alguns aspectos da sua riqueza transbordante que sempre oferece mais. e) É inevitável que isto possa levar a uma melhor expressão de algumas declarações passadas do Magistério, e de fato tem acontecido assim ao longo da história. f) Por outro lado, é verdade que o Magistério não é superior à Palavra de Deus, mas também é verdade que tanto os textos das Escrituras como os testemunhos da Tradição necessitam de uma interpretação que permita distinguir a sua substância perene do condicionamento cultural. É evidente, por exemplo, em textos bíblicos (como Ex 21, 20-21) e em algumas intervenções magisteriais que toleraram a escravidão (Cf. Nicolau V, Bula Dum Diversas, 1452). Não é uma questão menor, dada a sua íntima ligação com a verdade perene da dignidade inalienável da pessoa humana. Esses textos precisam de uma interpretação. O mesmo se aplica a algumas considerações do Novo Testamento sobre as mulheres (1 Cor 11,3-10; 1 Tm 2,11-14) e a outros textos das Escrituras e testemunhos da Tradição que hoje não podem ser repetidos materialmente. g) É importante sublinhar que o que não pode mudar é o que foi revelado “para a salvação de todos” (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 7). Portanto, a Igreja deve discernir constantemente entre o que é essencial para a salvação e o que é secundário ou menos diretamente ligado a este objetivo. A este respeito, interessa-me recordar o que dizia São Tomás de Aquino: “quanto mais se desce ao particular, mais aumenta a indeterminação” (Suma Teológica 1-1 1, q. 94, art. 4). h) Finalmente, uma única formulação de uma verdade nunca poderá ser adequadamente compreendida se for apresentada sozinha, isolada do contexto rico e harmonioso de toda a Revelação. A “hierarquia da verdade” implica também colocar cada uma delas em conexão adequada com as verdades mais centrais e com a totalidade do ensinamento da Igreja. Isto pode finalmente dar origem a diferentes formas de expor a mesma doutrina, embora “aqueles que sonham com uma doutrina monolítica defendida por todos sem nuances, isso pode parecer uma dispersão imperfeita. Mas a realidade é que esta variedade ajuda a manifestar e desenvolver melhor os vários aspectos da riqueza inesgotável do Evangelho» (Evangelii gaudium, 49). Cada linha teológica tem os seus riscos, mas também as suas oportunidades. II. Dubium sobre a afirmação de que a prática generalizada de abençoar as uniões do mesmo sexo está de acordo com a Revelação e o Magistério (CIC 2357). a) A Igreja tem uma concepção muito clara do casamento: união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos. Somente essa união é chamada de “matrimônio”. Outras formas de união só o fazem “de forma parcial e análoga” (Amoris laetitia 292), razão pela qual não podem ser estritamente chamadas de “matrimônio”. b) Não se trata apenas de nomes, mas a realidade a que chamamos matrimônio tem uma constituição essencial única que exige um nome exclusivo, não aplicável a outras realidades. Sem dúvida é muito mais que um mero “ideal”. c) Por esta razão a Igreja evita qualquer tipo de rito ou sacramental que possa contradizer esta convicção e implicar que seja reconhecido como matrimônio algo que não o é. d) Contudo, no trato com as pessoas não devemos perder a caridade pastoral, que deve permear todas as nossas decisões e atitudes. A defesa da verdade objetiva não é a única expressão daquela caridade, que também é feita de bondade, paciência, compreensão, ternura e encorajamento. Consequentemente, não podemos tornar-nos juízes que apenas negam, rejeitam, excluem. e) Portanto, a prudência pastoral deve discernir adequadamente se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou várias pessoas, que não transmitam uma concepção errônea do matrimônio. Porque quando você pede uma bênção você está expressando um pedido de ajuda de Deus, uma oração para poder viver melhor, uma confiança em um Pai que pode nos ajudar a viver melhor. f) Por outro lado, embora existam situações que do ponto de vista objectivo não são moralmente aceitáveis, a mesma caridade pastoral exige que não tratemos simplesmente as outras pessoas como “pecadores” cuja culpa ou responsabilidade pode ser atenuada por vários factores que influenciam a imputabilidade subjetiva (Cf. São João Paulo II, Reconciliatio et Paenitentia, 17). g) As decisões que, em determinadas circunstâncias, podem fazer parte da prudência pastoral, não devem necessariamente tornar-se norma. Ou seja, não convém que uma Diocese, uma Conferência Episcopal ou qualquer outra estrutura eclesial possibilite constante e oficialmente procedimentos ou ritos para todo tipo de assuntos, pois tudo “que faz parte de um discernimento prático diante de um situação particular não pode ser elevada à categoria de norma”, porque isso “daria origem a uma