Aborto já aquece a disputa presidencial americana de 2024

A corrida presidencial americana para 2024 começou e a pauta do aborto está no centro das discussões. Porém, não necessariamente com mais espaço para os pró-vidas. Durante as eleições de meio-termo do ano passado, houve uma expectativa de uma onda vermelha, com os republicanos alcançando a maioria na Câmara dos Representantes e no Senado. Porém, o resultado ficou próximo do previsto pelo site Real Politics, onde os Republicanos alcançaram a maioria na Câmara, mas ficaram empatados no Senado, onde o desempate é feito pela Vice-Presidência, atualmente, democrata. É importante lembrar que, nos EUA, o vermelho é a cor do Partido Republicano e o azul a do Partido Democrata. As eleições de meio de mandato acontecem para parte das cadeiras do legislativo, numa forma de avaliar o presidente em exercício. Parte dos Republicanos atribuiu o resultado abaixo do esperado à revogação, pela Suprema Corte, da decisão Roe vs Wade, que dirigiu aos estados americanos a legislação sobre o aborto. A explicação seria que muitos eleitores republicanos preferiram votar em democratas exatamente por defenderem o aborto. Essa disputa se manifesta nos dois principais nomes à Casa Branca do Partido Republicano: Donald J. Trump e Ron DeSantis. O primeiro, apesar de ter indicado três dos juízes que derrubaram a decisão Roe vs Wade, está entre os que culpam as restrições ao aborto pelo baixo desempenho Republicano nas eleições de meio de mandato de 2022. DeSantis, por outro lado, teve um desempenho de votação 100% pró-vida. A disputa entre ambos seria tanto por sinalizarem serem pró-vidas reais e o quanto se isso seria positivo para a campanha presidencial. Apesar das políticas pró-vida de Trump, o político tem um histórico de “pró-escolha” (eufemismo usado para designar quem defende a escolha da mãe sobre o assassinato do filho no útero). Em 2016, sinalizando sua mudança de posição, prometeu seu apoio a uma lista de políticas pró-vida e recorreu a Federalist Society e a Heritage Foundation para obter uma lista de pró-vidas indicáveis à Suprema Corte. Atualmente, Trump lidera as pesquisas nacionais para a indicação presidencial republicana por uma margem substancial. DeSantis, por hora, nem sequer anunciou a candidatura, mas deverá fazê-lo e permanece competitivo. Na primeira fase, a disputa presidencial é interna e os candidatos de um mesmo partido lutam para conseguirem o apoio para serem o presidenciável. Do lado democrata, os dois principais nomes têm histórico de posicionamento favorável ao aborto: o atual presidente Joe Biden e o advogado ambientalista Robert F. Kennedy Jr.

Donald Trump diz que a decisão sobre o aborto deveria ser deixada para os estados

A campanha de reeleição do ex-presidente Donald Trump irritou vozes pró-vida esta semana ao supostamente reduzir a importância do tema do aborto em comentários privados. Na sequência, teria rejeitado uma ação nacional sobre o aborto, deixando a decisão dos estados. As informações foram publicadas pelo Washington Post, que publicou que Trump está “dizendo em particular aos conselheiros que acredita que [a questão do aborto] é difícil para os republicanos e não algo em que ele deva concentrar seu tempo”. Segundo o site, líderes pró-vida se frustraram com o fracasso de Trump em levantar o assunto durante um recente retiro de doadores. Grupos pró-vida dizem que apoiar uma proibição nacional de 15 semanas deve ser o limite mínimo para consideração presidencial. O porta-voz da Campanha de Trump para 2024, Steven Cheung, se recusou a responder se o ex-presidente apoia a proibição do aborto de 6 semanas, recentemente assinada, por seu principal rival, o governador da Flórida, Ron DeSantis. E emitiu a seguinte declaração: “O presidente Donald J. Trump acredita que a Suprema Corte, comandada pelos três Ministros que ele apoiou, acertou ao decidir que essa é uma questão que deve ser decidida na esfera estadual.” Trump tem crédito com os grupos pró-vida também por nomear três dos juízes da Suprema Corte que votaram pela derrubada de Roe vs. Wade no verão passado. O porta-voz também acrescentou que Trump “continuará com essas políticas quando for reeleito para a Casa Branca”. E acrescentou que, “como o presidente Reagan antes dele, o presidente Trump apoia exceções para estupro, incesto e vida da mãe.” Ronald Reagan, que apoiou uma emenda constitucional para proibir o aborto em todo o país, não apoiou exceções de estupro ou incesto.

Robert F. Kennedy Jr. anuncia a candidatura presidencial de 2024 como Democrata

Sobrinho de John F. Kennedy, presidente americano assassinado em 1963, Robert F. Kennedy Jr. é líder da liberdade médica e fundador da Children’s Health Defense, grupo que ganhou destaque nos últimos anos devido à controvérsia em curso com as vacinas contra a COVID-19. Na última quarta-feira, ele anunciou a candidatura à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata. O advogado ambientalista, é filho do ex-procurador-geral dos Estados Unidos, Robert Kennedy, assassinado em 1968. Kennedy lançou sua candidatura em Boston, criticando o fechamento de escolas e empresas durante a pandemia de Covid-19. Ele também disse que o governo e a mídia “mentiram para a população”. Também afirmou que está concorrendo contra a “polarização” e o “feudalismo corporativo”. Durante o anúncio no Park Plaza Hotel, ele também disse que “temos uma polarização em nosso país hoje que é tão tóxica, tão perigosa, do que em qualquer outro momento desde a Guerra Civil”. Por hora, ele não parece ser uma ameaça séria, mas uma pesquisa do USA Today com a Universidade de Suffolk mostra que 14% dos votantes em Biden votariam nele. A postura dele parece ressoar com uma minoria insatisfeita de democratas e pode representar um sério problema se concorrer como candidato por um terceiro partido em 2024. O presidente Biden insiste que concorrerá a um segundo mandato, embora seus índices de aprovação estejam baixos e questões contínuas sobre sua saúde cognitiva continue alimentando especulações de que os democratas o substituirão. Quem é Robert F. Kennedy Jr.? A oposição de Kennedy às vacinas, bloqueios e mandatos do COVID, tornou o advogado um improvável aliado de muitos conservadores nos últimos anos. Porém, ele tem um histórico de posições de esquerda que pode surpreender seus fãs mais recentes. Em 2005, ele sugeriu que as políticas energéticas republicanas eram as culpadas pelo furacão Katrina e que o petróleo era a verdadeira motivação para as guerras no Afeganistão e no Iraque. Em 2014, disse sobre aqueles que negam o aquecimento global antropogênico: “Gostaria que houvesse uma lei com a qual você pudesse puni-los”. Mais tarde, ele negou acreditar que “todos” os chamados “negadores do clima” deveriam ser presos, mas acrescentou querer que os procuradores-gerais do estado usassem seu poder para forçar as empresas que têm a mesma opinião a sair do mercado. No passado, disse ser favorável ao aborto legal e se opõe à revogação do Obamacare. Também apoiou a redefinição do casamento para incluir uniões entre pessoas do mesmo sexo. Sobre o controle de armas, disse que “devemos concentrar nossos esforços na aplicação das leis existentes, em vez de criar novas”.

Estado de Washington avalia projeto de lei que permite ocultar transição de gênero de menores

A câmara do estado de Washington avalia projeto de lei que permitirá que abrigos licenciados de jovens ocultem dos pais as informações se um jovem sob seus cuidados está passando por uma transição de gênero. Os abrigos entrariam em contato com o estado e poderiam não informar os pais. O projeto de lei, intitulado “Apoio a jovens e adultos jovens que buscam serviços de saúde protegidos”, foi apresentado por seis democratas e aprovado na Câmara estadual na última quarta-feira. Se aprovado, os abrigos para jovens licenciados poderão informar apenas o Departamento Estadual de Crianças, Jovens e Famílias (o DCYF, na sigla em inglês) e não os pais de uma criança se a criança estiver “procurando ou recebendo serviços de saúde protegidos”. Os serviços abarcados pela lei são “avaliação e tratamentos para disforia de gênero, terapia hormonal de afirmação de gênero e procedimentos cirúrgicos de afirmação de gênero”. O projeto agora retorna ao Senado Estadual, onde deve ser aprovado antes de ir para a sanção do governador democrata Jay Inslee. De acordo com a atual lei do estado de Washington, além de informar o DCYF, os abrigos devem informar aos pais de um menor que estão abrigando uma criança, a menos que haja “razões convincentes” para não fazê-lo. São casos como os que indicam que a criança pode ser abusada ou negligenciada por seus pais. A Conferência Católica do Estado de Washington, destacou que o projeto de lei mina o relacionamento fundamental entre pais e filhos e instou os legisladores a rejeitá-la. Cirurgias eletivas para menores em Washington ainda exigirão o consentimento dos pais, mesmo que a legislação seja aprovada. O estado de Washington é um dos vários que se movem para impedir a atuação da família quando um jovem acessa um tratamento de “afirmação de gênero”. Outros estados, como Mississippi e Missouri, estão restringindo a prática. O projeto e a tramitação encontram-se disponíveis pelo link: https://app.leg.wa.gov/billsummary?BillNumber=5599&Initiative=false&Year=2023