A assembleia do Sínodo da Sinodalidade aprovou o relatório resumido com 42 páginas na noite de sábado. E mudanças significativas ocorreram entre o rascunho inicial e o texto final, que servirá de base para a sessão do Sínodo de outubro de 2024.
O relatório resumido final não incluiu o termo “LGBTQ+”, que estava presente no rascunho do documento entregue aos membros do Sínodo na quarta-feira, 25 de outubro. A expressão de constava tanto no instrumentum laboris do Sínodo como, de forma diferente, na versão inicial.
Da mesma forma, uma proposta que parecia apelar a um Sínodo permanente em sessão que proporcionasse consultas ao Papa não foi incluída no relatório resumido final.
Os trechos que sugerem a necessidade de reconsiderar até que ponto “a diferença sexual deve moldar a eclesiologia e as abordagens ao ministério” também foram removidos. Eles aparentavam propor mudar o entendimento da Igreja de que apenas os homens são elegíveis para serem ordenados às ordens sagradas e, portanto, exercerem certos ministérios de ensino, governação e santificação.
No total, 1.251 emendas foram apresentadas ao texto pelos delegados do Sínodo, e uma equipe de redatores trabalhou para incorporá-las na versão final antes de ser entregue aos membros no sábado e votada mais tarde à noite. Cada parágrafo do relatório resumido final foi aceito pela assembleia com o mínimo de dois terços para aprovação.
Elementos completamente ausentes do rascunho foram acrescentados. Um exemplo particularmente notável disto foi o acréscimo de uma proposta para colocar os homens que deixaram o sacerdócio num “serviço pastoral que melhore a sua formação e experiência”. A proposta prevê análise caso a caso.
Também se acrescentou referências que sublinham a importância do ensino da Igreja. A palavra “magistério”, referindo-se ao ensinamento oficial da Igreja Católica, aparece 10 vezes na versão final, ao invés das quatro referências feitas no rascunho original.
Para citar um exemplo, uma proposta de que um grupo de especialistas se envolvesse num “discernimento partilhado” foi ajustada para sublinhar que o discernimento deve ser conduzido “à luz da Palavra de Deus, do ensinamento da Igreja, das reflexões teológicas e valorizando a experiência sinodal”. O objetivo do grupo é discernir sobre “questões doutrinais, pastorais e éticas”, incluindo as relacionadas com o gênero, a sexualidade e o fim da vida.
Rejeição da terminologia “LGBTQ+”
O instrumentum laboris incluia frases como “católicos LGBTQ+” e “pessoas LGBTQ+”. Porém, o uso da expressão é contestado por muitos bispos e teólogos. O argumento é que ela enquadra de forma inútil as atrações sexuais e/ou sentido de gênero de um indivíduo como uma parte fundamental da sua identidade. Outros, no entanto, pressionaram para que os documentos da Igreja incluíssem a terminologia, popular no ocidente secular, mas com forte resistência em lugares como África e Europa Oriental.
Após as discussões na assembleia, o rascunho inicial do relatório usava “pessoas que se identificam como LGBTQ+”, expressam considerada menos problemática, porque usa “LGBTQ+” como uma identificação subjetiva, não como um estado de ser.
No entanto, quando o relatório resumido final foi divulgado, qualquer menção a “LGBTQ+” foi totalmente removida. No lugar, o documento falava de “pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja devido à sua situação conjugal, identidade e sexualidade”.
O relatório resumido, no entanto, utilizou os termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” num determinado momento.
A ausência da terminologia “LGBTQ” foi percebida como um grande golpe por alguns ativistas e figuras da mídia. O membro do Sínodo, padre jesuíta James Martin, um padre americano que usa regularmente o paradigma “LGBTQ+” em seu ativismo e ministério, expressou sua decepção.
Um cenário semelhante ocorreu em 2018. Na ocasião, durante o Sínodo sobre os Jovens, o termo “LGBTQ” apareceu no instrumentum laboris, embora não tenha sido mencionado no relatório apresentado pelos jovens que participaram na reunião pré-sinodal. A inserção do termo foi saudada como um divisor de águas pela mídia e por ativistas, mas o documento final do Sínodo sobre os Jovens não incluiu nenhuma menção ao termo.
O objetivo, de o termo “LGBTQ” aparecer no relatório final da assembleia sinodal, sinalizando que o uso do termo recebeu aprovação universal, consolidando-o mais firmemente no vocabulário da Igreja, foi frustrado mais uma vez.
Não haverá ‘Super Sínodo’
O relatório resumido do Sínodo sobre a Sinodalidade sublinhou que os participantes experimentaram “alegria evangélica” ao participarem na assembleia – mas talvez não o suficiente para torná-la uma característica perpétua na Igreja. Assim, a proposta do rascunho “para estabelecer um sínodo permanente de Bispos eleitos pelas Conferências Episcopais para apoiar o ministério petrino” estava ausente do documento final.
O Sínodo dos Bispos foi instituído pelo Papa São Paulo VI em 1965, sendo um órgão permanente e canonicamente reconhecido da Igreja. Ele realiza assembleias ordinárias, normalmente a cada três anos, e a maioria dos membros que participam nessas assembleias são eleitos pela respectiva conferência episcopal.
A proposta, então, seria provavelmente de algo ainda mais e regular, como um órgão sinodal que estivesse permanentemente “em sessão”.
O relatório resumido apresentou esta dinâmica principalmente como positiva, lançando aparentemente as bases para que se tornasse uma característica regular do que tinha sido conhecido como o Sínodo dos Bispos no futuro. A proposta de estabelecer um Sínodo dos Bispos em sessão permanente para aconselhar o Papa foi feita no contexto das mudanças na composição do Sínodo na assembleia deste mês de outubro. A mais notavelmente foi a inclusão de eleitores não-bispos.
Foi com esse contexto que a foi lida como uma porta de entrada para a criação de uma espécie de “Super Sínodo”: um corpo de bispos, padres, religiosos e leigos e mulheres que fornece consultas contínuas ao Papa.
Não chegando à versão final, em seu lugar estava uma menção ausente da versão preliminar sobre fazer do Conselho dos Cardeais, um grupo de nove prelados seniores que aconselham o Papa Francisco, um “concílio sinodal”. A frase é ambígua, mas dada a associação entre sinodalidade e um maior envolvimento de não-bispos, ela pode apontar para a participação de não-cardeais no “gabinete do Papa” de alguma forma.
A mesma seção do relatório resumido também incluía uma proposta que não se encontra em parte alguma do projeto para examinar cuidadosamente “se é apropriado ordenar prelados da Cúria Romana como bispos”. É o mais recente exemplo de dissociação da ordenação episcopal da governação da Igreja.
Encontrando consenso
Conforme os organizadores do Sínodo, 1.251 alterações ao projeto de texto foram propostas pelos 364 delegados votantes da assembleia. 1.125 alterações vieram dos pequenos grupos e 126 eram individuais. As solicitações de alteração aplicavam-se a parágrafos individuais e podiam exigir alterações, acréscimos ou exclusões.
Tal como a maioria dos procedimentos do Sínodo sobre a Sinodalidade, as informações sobre o processo de alteração foram mantidas confidenciais. Portanto, desconhece-se quantas alterações foram apresentadas em cada parágrafo e o que foi solicitado.
A equipe de redação do Sínodo recebeu essas emendas na quinta-feira, e o grupo teve pouco mais de 24 horas para sintetizar todos os pedidos de mudanças em uma versão que os membros receberam no sábado, horas antes da votação final.
O pouco tempo para a quantidade de alterações gerou dúvida de que os redatores pudessem ajustar o texto o suficiente para aprovação pela assembleia. A votação foi mais tarde do que o esperado, mas cada um dos parágrafos do relatório recebeu a aprovação necessária, com a assembleia terminando as suas quase quatro semanas de deliberação com uma nota de unidade.
Informações com o National Catholic Register.