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Papa Francisco publica nova Exortação Apostólica sobre mudanças climáticas

Créditos: Wikimedia Commons.

Em continuidade com a sua encíclica Laudato si, de 2015, o Papa Francisco publicou hoje a Exortação Apostólica Laudate Deum, sobre as mudanças climáticas. O documento é dividido em seis capítulos e 73 parágrafos, nos quais o Sumo Pontífice tenta esclarecer e completar seu texto anterior sobre ecologia integral.

A data de hoje foi escolhida para a publicação por ser a festa de São Francisco de Assis. O documento também antecipa a COP28, que se realizará em Dubai entre o final de novembro e o início de dezembro.

O Papel do Ser Humano

No texto, o Papa afirma a impossibilidade de negar as alterações climáticas. “Os últimos anos temos assistido a fenômenos meteorológicos extremos, frequentes períodos de calor anormal, secas e outros gritos de protesto por parte da terra”, destaca o Pontífice.

E reforça que “é verificável que mudanças climáticas específicas provocadas pela humanidade estão a aumentar notavelmente a probabilidade de fenômenos extremos que são cada vez mais frequentes e intensos”.

O Santo Padre também critica os que culpam os pobres pelas mudanças climáticas, contrapondo que “uma percentagem baixa e mais rica do planeta contamina mais do que os 50% mais pobres da população mundial total, e que as emissões per capita dos países mais ricos são muito maiores do que as dos mais pobres.”

Falando sobre o paradigma tecnocrático, que consiste em pensar que “a realidade, o bem e a verdade fluem automaticamente do poder tecnológico e econômico enquanto tal”, o Papa Francisco destaca que “nada garante que ele será usado com sabedoria, especialmente quando consideramos como está sendo usado atualmente”. E reforça que o “imenso desenvolvimento tecnológico não foi acompanhado por um desenvolvimento da responsabilidade, dos valores e da consciência humana”.

Criticando as notícias falsas e o abuso de técnicas de marketing, o Santo Padre afirma que “a decadência ética do poder real é disfarçada graças ao marketing e às informações falsas, ferramentas úteis nas mãos daqueles com maiores recursos para empregá-las para moldar a opinião pública.”

Entre as soluções, o Papa destaca o papel que vê nos mecanismos internacionais, que “devem ser dotados de autoridade real, de modo a proporcionar a consecução de certos objetivos essenciais”. E defende o multilateralismo, pois “as respostas aos problemas podem vir de qualquer país, por menor que seja”.

Conferências climáticas

O Papa Francisco também descreve as diversas conferências sobre o clima realizadas até agora. Começando pelo encontro de Paris, em novembro de 2016, que não estabeleceu sanções pelo incumprimento das obrigações e faltam instrumentos eficazes para fazer cumprir o acordo, bem como não existem sanções reais nem instrumentos eficazes para garantir o cumprimento.

Sua Santidade também menciona a decepção com a COP de Madrid e recorda que a COP de Glasgow reavivou os objetivos de Paris, mas “as propostas tendentes a assegurar uma transição rápida e eficaz para formas de energia alternativas e menos poluentes não fizeram progressos”.

Sobre a COP27, realizada no Egito em 2022, o Santo Padre destaca que foi “mais um exemplo da dificuldade das negociações”, e embora “marque um passo em frente na consolidação de um sistema de financiamento de ‘perdas e danos’ nos países mais afetados por desastres climáticos”, esta permaneceu “impreciso” (51) em muitos pontos.

Olhando para a COP28, a ser realizada em Dubai no final deste ano de 2023, o Papa Francisco escreve que “dizer que não há nada a esperar seria suicídio, pois significaria expor toda a humanidade, especialmente os mais pobres, aos piores impactos das alterações climáticas”.

O Sumo Pontífice pede pelo fim do “o escárnio irresponsável que apresentaria esta questão como algo puramente ecológico, ‘verde’, romântico, frequentemente sujeito ao ridículo por parte dos interesses econômicos”.

Ao final do documento, o Papa recorda que as motivações para este compromisso decorrem da fé cristã, encorajando “os meus irmãos e irmãs de outras religiões a fazerem o mesmo”.

Henrique Weizenmann

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